O pesquisador do Instituto Butantan Carlos Jared estava coletando pererecas na caatinga do Rio Grande do Norte quando começou a sentir uma dor insuportável em todo o braço. A espécie que estava coletando era a Corythomantis greeningi, que faz parte de um grupo conhecido como pererecas-de-capacete. Só anos depois é que veio a conclusão de que aquela era uma espécie peçonhenta, algo inédito entre as pererecas. A descoberta foi publicada na revista “Current Biology”. Jared explica que muitas outras pererecas, sapos e rãs têm glândulas que produzem veneno. Quando um predador morde um desses bichos, a pressão da mordida faz a glândula ejetar esse veneno. Trata-se de uma defesa passiva, já que o próprio animal não tem controle sobre esse mecanismo. Quem aciona o veneno é o agressor. Já a espécie que fez o braço do cientista latejar de dor durante cerca de cinco horas apresenta um mecanismo de defesa que é um misto entre passivo e ativo. Isso porque sua cabeça tem espinhos que passam por dentro das glândulas de veneno, que é injetado em um possível agressor em situações de perigo. A perereca é capaz de fazer movimentos com a cabeça de modo que, encostando em outro animal, o veneno é injetado com a ajuda dos espinhos. Ou seja, essa perereca tem um mecanismo capaz de inocular ativamente o veneno no agressor, por isso pode ser considerada peçonhenta (assim como algumas espécies de cobras, escorpiões ou aranhas). Posteriormente, um mecanismo igual a esse foi identificado em uma segunda espécie de perereca-de-capacete, desta vez na Mata Atlântica. A espécie, chamada Aparasphenodon brunoi, tem um veneno 25 vezes mais potentes do que o da Corythomantis greeningi.