Escovar os dentes parece ser algo simples, tão automático que frequentemente não paramos para refletir o quanto é fundamental para garantir uma população saudável. As crianças precisam ser ensinadas desde cedo sobre a importância da escovação diária. Por isso, é essencial que os pais e a escola sejam aliados na hora de educar e conscientizar os pequenos sobre o quanto os cuidados com a saúde bucal são imprescindíveis para evitar cáries, perdas de dentes, periodontite e outros problemas futuros. Até aproximadamente os 7 anos, as crianças precisam da ajuda e supervisão dos pais na hora de escovar os dentes, pois ainda não conseguem reproduzir os movimentos da escovação. A partir dessa idade, elas amadurecem psicológica e fisicamente, o que as deixa menos dependentes de adultos. Ao reservar uma parte da aula para que os alunos escovem os dentes após a hora do lanche no colégio, o educador estará reforçando esse hábito. Além disso, ele alerta sobre as doenças e consequências que podem surgir da falta de higiene oral e esclarece quais são os tratamentos caso apareçam problemas bucais. Wolber Campos, cirurgião-dentista e voluntário do projeto Sorriso na Escola, acredita que a motivação dos educadores é o diferencial para conscientizar as crianças sobre a importância da saúde bucal. “É importante que ao longo do ano letivo o educador reitere a necessidade desse costume. Se dermos uma palestra e ninguém comentar nada a respeito, não demora muito para que a situação volte ao normal”, afirma. A pedagoga Bárbara Durães, que integra a coordenadoria de projetos educacionais do município São Gabriel, na Bahia, ressalta que a conscientização das crianças sobre saúde bucal pode melhorar o rendimento escolar. “O envolvimento dos educadores faz com que os alunos entendam a necessidade de uma higiene oral de qualidade. Isso possibilita que eles faltem menos às aulas, por não terem mais dor de dente”, esclarece. Grande parte dos problemas de saúde bucal do país vêm de casa, porque os pais, frequentemente, não têm uma boa educação na higiene oral, o que influencia os filhos a serem descuidados durante a escovação. “Em algumas casas, a família tem uma única escova que é dividida por todos os membros”, relata Campos. A saúde bucal pode ser abordada dentro das salas de aula em duas frentes: uma teórica e outra prática. Na teoria, é preciso que os educadores reforcem durante o ano a importância de manter bons hábitos de higiene oral. A escola pode promover palestras e atividades lúdicas, que mostrem como cuidar bem dos dentes. Na prática, pode-se tornar a escovação um costume diário e inserir a saúde bucal na rotina escolar, como nos temas das redações e em exercícios de ciências. Sorriso na Escola Campos é voluntário no projeto Sorriso na Escola do Instituto Brasil Solidário, plano que surgiu no início dos anos 2000 e alia ações periódicas preventivas e educativas em saúde bucal nas escolas brasileiras. O dentista entrou em 2004 com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das crianças e tornar o país um lugar melhor. “Se eu puder fazer o que eu faço diariamente para 10 crianças que não têm acesso ao dentista, eu estarei fazendo alguma diferença na vida delas”, diz. No início, o projeto trabalhava apenas com a prevenção e tratamento, utilizando instrumentos mais simples. Com o crescimento da iniciativa, entre 2006 e 2007, a equipe de voluntários começou a ficar mais tempo nas cidades, possibilitando atendimentos mais completos nas escolas. O programa influenciou a criação de leis municipais, que tornam obrigatórios os escovódromos e a escovação diária nas escolas, a partir da implementação do projeto em muitas cidades do Brasil. Ele já foi implantado em todos os estados do nordeste, além do Pará, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais e Rio de Janeiro. O Sorriso na Escola conta com o apoio financeiro da iniciativa privada, que ajuda a manter o trabalho com a doação de aparatos técnicos, passagens, hospedagens e alimentação. A Colgate, por exemplo, fornece um kit de prevenção com escovas, fios dentais e pastas de dentes, que os voluntários distribuem para as crianças das escolas. Bárbara trabalhava na Escola Luiz Viana Filho, em Irecê, na Bahia, no ano de 2011, quando o projeto foi implantado por Campos e seus colegas. “O doutor deixou a lição para que aqueles que continuassem na escola seguissem o projeto”, relembra a pedagoga. A reação das crianças foi instantânea e muito positiva. “Alguns alunos que tinham dentes estragados começaram a se olhar nos espelhos e sentiram-se confortáveis em sorrir pela primeira vez”, conta. A Colgate manda anualmente uma certa quantidade de escovas, entre 500 e 900 unidades, para o município. “Isso é o suficiente para trocar as escovas das crianças umas três vezes ao ano”. Em 2013, Bárbara mudou-se para o município de São Gabriel (BH), onde foi trabalhar como gestora na Escola Manoel Honorato de Souza. Lá, ela aplicou o projeto, que se popularizou e espalhou-se por toda a cidade. O plano deu tão certo que a prefeitura de São Gabriel está analisando uma lei municipal que torna obrigatória a escovação diária e a presença de um escovódromo em cada escola.
O hábito de escovar os dentes deve ser ensinado desde cedo às crianças.
