Em estudos preliminares, cientistas avaliam a possibilidade de o zika vírus ter a capacidade de se reativar no organismo, ou seja, de permanecer “guardado” no corpo depois de uma primeira infecção, e ressurgir algum tempo depois, causando novo episódio da doença. Deste modo, o zika se tornaria uma patologia crônica, como é o caso da Aids, do câncer e do diabetes, por exemplo. Em São Paulo, durante prévia da conferência internacional Bridging the Sciences, que será realizada em Atlanta (EUA) em maio, médicos de universidades brasileiras e da indústria farmacêutica debateram a criação de medicamentos contra o zika vírus, suas consequências, transmissão e a relação com a microcefalia. Amilcar Tanuri, professor do Departamento de Genética da UFRJ, conta que já há casos de indivíduos que apresentaram sintomas do zika novamente até três meses depois da primeira vez em que buscaram ajuda médica por causa da mesma doença. "Trabalhamos com duas hipóteses: a reativação ou a reinfecção. No caso de reativação, o vírus está no sistema, em algum órgão, em algum reservatório. Estamos tentando desvendar o mecanismo. O que sabemos, é que o vírus fica saindo por um longo período de tempo na urina e no sêmen. Já vimos pacientes voltando ao pronto-socorro com dor articular, edema na mão, e conseguimos isolar o vírus no sangue". Justamente por conta disso, Tanuri pede precaução das mulheres em relação ao planejamento de uma gravidez. Até o momento, o que se sugeria era que fosse respeitado um prazo de cerca de duas semanas após o desaparecimento completo dos sintomas para que a paciente engravidasse. No entanto, o médico avalia que é necessário ter mais cautela. "Eu estenderia o período de duas semanas para, pelo menos, dois meses. Mas, como a gente sabe muito pouco do vírus, ainda é muito cedo para dar essas recomendações. Há um caso, inclusive, de uma grávida que teve viremia (presença do vírus no sangue) duas vezes só durante a gestação".