O historiador político Carlos Zacarias afirma que a Ditadura na Bahia foi tão repressiva e violenta quanto no restante do país
O professor Carlos Zacarias, do departamento de História da Universidade Federal da Bahia (UFBA), causou polêmica por ser responsável pela criação da disciplina “Tópicos Especiais em História: o golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil” em março do ano passado. A disciplina trata do período do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. À Tribuna, o professor relembra o quadro de horror que o Golpe de 1964 gerou para a Bahia no período ditatorial. “O quadro da ditadura na Bahia é semelhante ao dos demais estados. Acontece que, no Rio e em São Paulo, havia uma maior concentração de organizações e estudantes. Até 1968, existiam manifestações mais efetivas na Bahia e eram mais fortes no Rio de Janeiro, em função da morte de Edson Luís de Lima Souto. Isso desencadeia em uma onda de manifestações que, no final do ano, termina culminando com a edição do AI-5”, relembra.
Na Bahia tivemos uma coisa parecida, teve repressão na UFBA, situações de professores que foram afastados ou aposentados compulsoriamente. Temos o caso do professor Nelson Pires, que era professor da Faculdade de Medicina, e também tinha sido militar, mas acabou sendo acusado de comunista e aposentado compulsoriamente. Temos também outros casos. Temos na UFBA também manifestações, nos anos 70, de estudantes e greves”, completa.
Indagado sobre o que achou da declaração de Bolsonaro sobre o Golpe, Zacarias protesta. “É lamentável que um presidente da República, eleito pelas vias da democracia com quase 58 milhões de votos, atue contra a democracia e exalte um período que foi triste na história do Brasil. Um período que a gente deve lembrar para que não se repita”. Para o historiador, Bolsonaro “é um presidente da República que exalta torturadores, que ficou parte dos últimos 28 anos comemorando o 31 de março. Que ele transforme a sua percepção do que foi o 31 de março numa comemoração oficial. Que ele tenha feito isso quando foi deputado, já foi uma vergonha. Agora, querer estender isso para toda a sociedade é uma afronta, um acinte, um atentado contra a Constituição”.
Zacarias afirma que há uma disputa de narrativas históricas, mas lembra que o “passado não se modifica”. “Não há um único historiador que não reconheça o golpe de 1964 como uma coisa boa para o Brasil. Toda a historiografia se constitui com base em evidências robustas, fortes. Evidências que demonstram do ponto de vista da verdade o que foi o golpe e a ditadura”. Tribuna da Bahia