*Por Gervásio Lima –
Milho e bolo ‘assados’ na Air Fryer, quentão preparado no microondas e fogueira elétrica com chamas de LED. Mais bizarras que se imagine, estas já são algumas das realidades do período mais nordestino do país, quando são realizados os festejos juninos e degustadas as mais diversas iguarias da típica e nativa culinária regional.
O advento das tecnologias, a insegurança e até mesmo a diminuição da empatia entre os que deveriam ser iguais, ou semelhantes, são algumas das justificativas para o abandono a seculares tradições populares como o São João.
O modo do preparo de alguns alimentos utilizando modernos equipamentos em detrimento ao uso de materiais rústicos causa estranheza não apenas para os que em algum momento viveram ou tiveram acesso através da oralidade de familiares, mas, principalmente, para o nostálgico, que enxerga a situação como uma verdadeira mudança de paradigma, uma ameaça à sobrevivência dos costumes históricos.
O que minimiza o iminente desaparecimento de determinados elementos juninos são as participações do Rei do Baião, Luíz Gonzaga, no Rock in Rio e do forrozeiro Dominguinhos com a orquestra de sanfonas no Festival Lollapalooza. Momentos para curtir e dançar ao som da boa música nordestina.
Muitos considerariam impossíveis tais participações destes dois saudosos ícones, mas que tal assistir ao show de música eletrônica do DJ Alok Achkar Peres Petrillo no São João da cidade de Irecê, prestigiar a música gospel do padre Fábio de Melo no Arraial de Quijingue e o pagodão da Banda Lá Fúria no Bloco “Os Caipiras” no São João de Terra Nova?
“Aqui tudo piorou, tudo tá mudado”, como já dizia Genival Lacerda que animava o público com shows autenticamente nordestinos e um estilo próprio de cantar o forró, sempre com muita irreverência e ousadia.
Ah, mas existe gosto para todos os ritmos e estilos, sim, como existem eventos para cada dia do ano e especificidades.
Como se comportariam os gaúchos se a bebida distribuída durante a Festa da Uva fosse suco de umbu e os moradores de Presidente Dutra, se as guloseimas oferecidas durante a Festa da Pinha fossem preparadas com cajus?
Cada qual no seu cada qual e, como diz o jornalista Fabrício Carpinejar, ‘aceita que dói menos’.
*Jornalista e Historiador
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