O setor brasileiro de suco de laranja enfrenta um dos maiores desafios da década com a decisão dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 50% sobre as exportações do produto. A nova medida, anunciada pelo presidente Donald Trump, deverá entrar em vigor a partir de 1º de agosto, elevando drasticamente os custos para os exportadores brasileiros e ameaçando a posição do país como líder global do segmento.
Segundo estimativas da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), o prejuízo pode chegar a US$ 792 milhões por safra, o equivalente a R$ 4,3 bilhões. O cálculo é baseado em dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e leva em conta o desempenho da safra encerrada em junho de 2025.
Suco de laranja: produto estratégico da economia brasileira
O Brasil é o maior exportador mundial de suco de laranja, responsável por abastecer os mercados mais exigentes, como Estados Unidos, União Europeia e Japão. Apenas entre julho de 2024 e junho de 2025, o país exportou mais de 307 mil toneladas do produto para os EUA, cerca de 85 milhões de caixas, movimentando US$ 1,31 bilhão em receita.
O estado de São Paulo lidera essa produção, sendo responsável por 78% da colheita de laranjas e mais de 80% do processamento do suco. Devido a essa concentração, os efeitos da tarifa devem ser especialmente severos para a economia paulista, que também representa quase um terço das exportações brasileiras para os EUA.
Por que Trump ameaça o suco de laranja brasileiro?
A imposição da nova tarifa é parte de uma política protecionista que visa favorecer a indústria doméstica norte-americana. A decisão, no entanto, atinge um mercado que já é altamente dependente das importações do Brasil. A produção local nos Estados Unidos, concentrada na Flórida, foi duramente atingida pela doença greening (HLB), que devastou os pomares desde meados dos anos 2000. Sem capacidade de atender à demanda interna, os EUA passaram a importar até 68% de seu suco de laranja do Brasil apenas nos primeiros meses de 2025.
Especialistas alertam que, se concretizada, a tarifa adicional não apenas tornará o suco brasileiro menos competitivo, mas poderá provocar alta nos preços ao consumidor americano e desorganizar cadeias produtivas locais, já que o produto exportado pelo Brasil é utilizado como insumo por grandes indústrias, como Coca-Cola e PepsiCo.
Impactos econômicos e sociais no Brasil
O salto da carga tributária sobre as exportações de suco de laranja preocupa a indústria brasileira. Hoje, as tarifas somam cerca de US$ 393 milhões. Com a nova alíquota de 50%, esse valor pode chegar a US$ 1,3 bilhão, quando consideradas todas as tarifas nos principais destinos do produto, como Canadá, Japão, China, Noruega, Suíça, Reino Unido e Rússia.
A CitrusBR alerta que, se a nova tarifa de 50% for aplicada cumulativamente com a taxa extra de 10% já em vigor desde abril, o impacto por safra pode ultrapassar os US$ 790 milhões. Caso a tarifa de 50% substitua a anterior, o prejuízo ainda seria de US$ 635 milhões, um aumento de 345,8% frente ao cenário atual.
Esses valores representam não apenas perdas para as empresas exportadoras, mas também riscos reais de desemprego, queda de investimentos e occiosidade industrial em um setor que emprega milhares de pessoas diretamente e indiretamente.
Governo reage com articulações políticas e comerciais
A resposta à medida adotada por Trump gerou movimentação no alto escalão do governo brasileiro. O vice-presidente Geraldo Alckmin, que também comanda o Ministério da Indústria e Comércio, anunciou a criação de um comitê interministerial e agendou reuniões com representantes de 14 setores da economia, incluindo o de suco de laranja, para debater os impactos da tarifa e traçar estratégias de resposta.
Já o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que inicialmente atribuiu a culpa ao presidente Lula, recuou dias depois, pedindo uma postura de “união de esforços” entre os poderes públicos e o setor privado para conter os danos ao agronegócio paulista.
Alternativas e limites do Brasil no comércio global
Apesar da possibilidade de buscar novos mercados, como União Europeia, Canadá, Reino Unido e países da Asean, especialistas alertam que a realocação do volume exportado para os EUA não é imediata, nem garantida. A demanda em mercados tradicionais pode já estar saturada, e ampliar exportações com incentivos diretos pode ser interpretado como dumping em disputas comerciais internacionais.
A alternativa mais viável, segundo analistas, é investir em promoção comercial estratégica através de órgãos como a ApexBrasil, além de acelerar a ratificação de acordos comerciais parados, como o Mercosul-União Europeia.