
Por José Antonio Valois
O Instituto Paraná Pesquisas divulgou os dados mais recentes sobre a corrida ao governo da Bahia em 2026. ACM Neto lidera todos os cenários testados. Contra o atual governador Jerônimo Rodrigues e o ex-ministro João Roma, Neto aparece com 53,5% das intenções de voto, enquanto Jerônimo tem 28,1%. Quando Roma é retirado do cenário, ACM Neto chega a 59,4%.
Números expressivos, sem dúvida. Mas, curiosamente, a percepção geral ainda não o coloca como favorito. E isso tem uma explicação muito clara: o trauma político da eleição de 2006.
Naquele ano, Paulo Souto era o franco favorito. As pesquisas indicavam vitória no primeiro turno. Mas a virada de Jacques Wagner surpreendeu a Bahia e mudou o curso da política no estado. Desde então, tanto o eleitor quanto os analistas carregam uma desconfiança estrutural em relação às pesquisas.
Essa memória histórica, somada ao peso da máquina estadual, ajuda a explicar por que nem mesmo uma liderança com quase 60% transforma automaticamente ACM Neto em favorito. Ainda há muitos fatores em disputa.
O principal deles está no campo adversário. Jerônimo Rodrigues hoje governa com 51,6% de desaprovação e 32,3% de avaliação “péssima”. Mas em 2026, ele não será mais visto como apenas o “candidato de Lula”, como foi em 2022 — será julgado por seu próprio governo. O palanque não será mais só emprestado. A responsabilidade será inteiramente dele.
Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer: a força da máquina é real. A estrutura do governo estadual, combinada com um projeto político que já soma quase duas décadas no poder, não pode ser subestimada. E dentro desse grupo, outro nome continua em evidência: Rui Costa. Quando testado para o governo, aparece com desempenho semelhante ao de Jerônimo. Já para o Senado, lidera com 44,5% das intenções de voto, superando até os percentuais de Jaques Wagner. A pesquisa mostra que Rui segue sendo um ativo eleitoral importante no grupo.
Já no plano nacional, o presidente Lula — que teve papel central na vitória de Jerônimo em 2022 — poderá ter menos capacidade de transferência em 2026. Apesar de um ganho momentâneo com a taxação de importações em resposta a Donald Trump, Lula enfrenta um cenário interno desafiador: falhas persistentes na comunicação do governo, inflação que corrói o poder de compra da população e insatisfação crescente dentro de sua própria base. Tudo isso pode limitar seu alcance eleitoral no próximo ciclo.
Diante desse cenário, o desafio de ACM Neto é político e simbólico: transformar liderança em favoritismo consolidado.
A eleição de 2022 deixou marcas. A escolha de Ana Coelho como vice, em detrimento de José Ronaldo, foi mal recebida. Não foi apenas uma decisão técnica, mas simbólica. Para muitos, representou ingratidão, quebra de confiança. E a política é feita, acima de tudo, de gestos.
Outro ponto sensível: após a derrota, Neto se afastou. Não agradeceu com a devida atenção a quem caminhou ao seu lado. Sumiu dos olhos de aliados, militantes e prefeitos. E isso não foi bem interpretado. Ganhar ou perder faz parte. Mas cultivar vínculos é parte do que sustenta um líder.
Agora, ele tem tempo, capital político e visibilidade. Mas precisa reconstruir a ponte com o interior da Bahia, com os prefeitos, com lideranças locais, com a base viva que faz a campanha acontecer.
É hora de:
1. Sinalizar que compreendeu os erros da última campanha, especialmente a escolha da vice;
2. Restabelecer a confiança com aliados históricos, como José Ronaldo e seus grupos;
3. Construir uma agenda ativa pelo interior, não apenas discursando, mas ouvindo e convivendo com as realidades locais;
4. Lançar um projeto que vá além da disputa com o PT — uma proposta de futuro que fale à autoestima dos baianos e que reconecte a política à esperança.
A força de um candidato não está apenas nos números. Está na capacidade de inspirar, de construir alianças duradouras, de mostrar que está pronto para governar um estado complexo e diverso como a Bahia.
ACM Neto lidera. Mas para vencer, precisa reaparecer como líder, como articulador e como símbolo de uma mudança segura e madura.
A eleição de 2026 começa agora. E quem aprender com a história tem mais chances de escrevê-la.
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