
Cledson Sady é Diretor de Saúde Mental de Jacobina
A campanha “Yellow Ribbon”, ou laço amarelo, foi iniciada em 1994 nos Estados unidos virando evento mundial em 2003 (OMS) conhecido como “setembro amarelo”, mês de prevenção ao suicídio. No Brasil a campanha chegou em 2015 por iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Em colaboração com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Centro de Valorização da Vida (CVV).
Muitas pesquisas já avaliaram o resultado sobre a campanha que orienta a prevenção ao suicídio, orientando a valorização da vida e a busca de ajuda quando as ideias suicidas ocorrem, como aconteceu com o jovem americano Mike Emme que deu origem a campanha nos Estados Unidos, que suicidou sem ter conseguido falar do seu sofrimento deixando como dica: “se você precisar, peça ajuda”.
No mundo ocorre um suicídio a cada quarenta segundos, sendo o maior número nos países com maiores problemas socio econômicos e entre os homens. Mas, depois de dez anos de campanha no Brasil, o que se discute hoje é ir além da fita amarela, que simboliza a campanha e o pedido de ajuda.
Muitas pessoas aparecem nos serviços de atenção básica e nos serviços especializados de saúde mental com narrativas de ideação suicida, planejamento e até tentativas, desde adolescentes em crise existencial, conflitos familiares ou uso de substâncias a adultos em sofrimento psíquico, usuário de álcool e outras drogas, em situação de fragilidade social ou abandono familiar, abandono de tratamento.
O número não é pequeno para quem lida com esta clientela, mas, quase invisível para a sociedade. A visibilidade só ocorre quando o fato é consumado e nada mais temos a fazer a não ser a pósvenção, ou seja, o cuidado a quem enlutou por suicídio.
Prevenção, intervenção, valorização da vida, são pautas da campanha brasileira desde 2015, mas, a oferta do cuidado do sofrimento que leva ao suicídio ainda não é suficiente nos nossos serviços, quando o Doutor em psiquiatria Dr. Rodolfo Damiano(FMUSP)) tem orientado ser necessário oferta de mais serviços de saúde mental, capacitação dos médicos clínicos que atuam na atenção básica em tratar sofrimentos psíquicos, educadores que identifiquem e encaminhem suspeitas para a unidade básica de saúde e maior oferta de leitos psiquiátricos em hospital geral.
Pedir ajuda e receber informação, usar a fita amarela, tudo continua válido, mas, precisamos avançar, pois os novos fatores, como abuso de telas por crianças e adolescentes, estresse cada vez maior no convívio das grandes cidades, abuso de álcool e drogas, são fatores que estão influenciando cada vez mais no evento multifatorial como o suicídio.
Em Jacobina temos três Caps, ou seja, estamos bem acima da média do que se estabelece como oferta de serviço em saúde mental no Brasil (1 Caps para cada cem mil habitantes). Mas, isso não significa que temos uma sociedade sem preconceito sobre o sofrimento psíquico e o uso de substância psicoativa, muito menos sobre suicídio. Sabemos que temos muito a avançar em resolutividade e adesão de usuários aos tratamentos propostos, mesmo em pessoas com décadas nos serviços, sem completa adesão ao cuidado, tendo crises regulares por falta de uso adequado das medicações.
Por isso temos que pensar e planejar, como sociedade, além da fita amarela e do slogan da campanha, mas, buscar pedir ajuda e aderir aos cuidados oferecidos pelos profissionais.
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