
No dia 14 de Novembro de 2005 nascia em Jacobina e região um novo tempo ao ser inaugurado o Centro de Atenção Psicossocial II (Caps II), iniciando o processo de desmanicomialização, mudando a lógica manicomial, que preponderou neste território para a atenção psicossocial.
Os “cidadãos invisíveis”, estigmatizados, excluídos, ganharam seu espaço de cuidado, sem necessidade de afastamento da família ou do seu meio social, como ocorria no caso das internações de longa permanência. Muita gente saiu de manicômio, como dos quartos com grades no fundo do quintal, por falta de opção de cuidado.
Em vinte anos de trabalho árduo, cresceram profissionais, usuários e familiares com a construção de uma nova realidade para a pessoa com sofrimento psíquico. Surgiram Caps nas cidades vizinhas, mesmo aquelas com população menor de vinte mil habitantes, que não podiam habilitar seus serviços até 2013.
Passamos por muitas dificuldades para dar conta deste cuidado complexo, mas, buscamos parcerias, oferecendo treinamento específico às Equipes de Saúde da Família, SAMU, Guarda Municipal, UPA e especialmente as famílias para fazer valer e honrar a Luta Antimanicomial, valorizando o ser humano. Infelizmente a alta rotatividade de profissionais na atenção básica e nos Caps dificulta muito a vinculação entre profissionais e usuários em cada território.
Em 2014 oferecemos treinamento a vinte profissionais da RAPS de Jacobina através de intercâmbio do Ministério da Saúde, capacitando-os em Atenção a Crise Psiquiátrica, por 30 dias cada, na cidade de Resende/RJ, mas, a grande maioria não tinha vínculo efetivo e saíram de Jacobina levando o que aprenderam no Percurso Formativo em saúde mental.
Os horrores dos manicômios estão ficando para trás na história dos jacobinenses com o esforço, dedicação e amor ao próximo de cada profissional que passou pelos CAPS de Jacobina, somando-se os Caps II (2005), AD (2006) e a caçula Caps IJ (2025). O apoio firme da atual gestão possibilitou as ações itinerantes de Caps nas 29 ESF do município, materializando a busca da territorialização do cuidado, quando ainda este ano deveremos realizar o sonho dos espaços de convivência e cultura nas localidades mais distantes da sede do município.

Poucos sabem das dificuldades e apuros passados pelos “mentaleiros” para darem conta de crises psiquiátricas, à noite, no final de semana, sem remuneração extra, sem vínculo empregatício efetivo, muitas vezes sem a compreensão de familiares e da sociedade tida como “normal”. Mas, a caravana de mentaleiros de verdade segue, dignificando a tarefa abraçada, cuidando dos “excluído dos excluídos”, sem esperar compreensão da sociedade manicomialista, que não aceita quem não se curva às regras produtivas do capital.
Parabéns a todos que contribuíram e contribuem para a construção deste espaço de cuidado e amor ao próximo; profissionais, usuários, familiares e em especial a atual gestão, que deu todo o apoio necessário para a reestruturação dos serviços existentes, implantando mais um Caps que atende a crianças e adolescentes com apenas cinco meses de gestão.
O Caps II Jacobina representa um marco no cuidado integral aquele que tem sofrimento psíquico. Sua luta para seguir a risca a Lei Paulo Delgado ainda não está vencida, mas, a busca pelo cuidado em liberdade e dos espaços de amabilidade está em curso.
Cledson Marlos Pinheiro Sady
Diretor de Saúde Mental
O conteúdo Vinte anos do Caps II Jacobina aparece primeiro em .