Professora coiteense umas das pioneiras da arte reborn na Bahia relembra trajetória e se surpreende com repercussão nacional

A arte reborn, conhecida por confeccionar bonecos hiper-realistas que imitam recém-nascidos, voltou a ganhar os holofotes no Brasil nos últimos dias. Celebridades, influenciadores digitais e até encontros públicos com “mães reborn” viralizaram nas redes sociais, reacendendo o interesse por uma atividade que mistura arte, emoção e afeto — e que tem raízes também em Conceição do Coité na região sisaleira da Bahia.

Lara (E) e Olívia são bebês com idades entre dois e três meses. Reborn feitos em 2013

Uma das primeiras artistas reborn do interior da Bahia, a professora Aloízia Barros Oliveira relembra com carinho sua experiência com a prática, iniciada há mais de uma década (2013). Natural de Irecê e moradora de Coité desde 2007, ela conta que teve seu primeiro contato com a arte reborn em fevereiro de 2013. “Posso dizer que foi amor à primeira vista. Estava navegando pela internet, sem grandes pretensões, quando me deparei com a imagem de um bebê. No primeiro momento, pensei que fosse uma criança de verdade… Mas, para minha surpresa, era uma boneca! Fiquei completamente encantada com aquele realismo, com os detalhes tão delicados e perfeitos. Naquele momento, algo despertou em mim. Tive a ideia de criar uma boneca parecida com a minha filha — uma forma de eternizar aquela fase tão linda da infância dela”, disse Iza, como é conhecida a professora que, desde então, passou também a ser artista reborn.

Ela buscou na internet informações básicas sobre como confeccionar os bebês e descobriu Ana Reborn uma artista em Salvador. Entrou em contato, fez um curso particular e iniciou sua produção em Coité. “Tomei o curso sozinha com Ana, paguei um valor relativamente alto. Depois, comecei a comprar os kits importados, vindos da Alemanha e de outros países da Europa, pagando em dólar e euro, o que deixava o material com custo muito elevado. Talvez por isso a arte não tenha se popularizado. Ainda assim, produzi e vendi bebês reborn para vários estados brasileiros. Cada bebê levava em média 30 dias para ficar pronto, claro que conciliando com meus outros afazeres”, conta.

O tom de pele é dado pela artista

Apesar de ter interrompido a produção por conta dos altos custos com materiais importados e da baixa valorização no mercado nacional à época, Aloízia guarda kits e lembranças de histórias tocantes. Uma delas envolve uma mulher que, sem filhos e apaixonada por bonecas, ia regularmente à sua casa apenas para segurar um dos reborns no colo. “Ela balançava como se fosse uma criança. Sonhava em ter um, mas não podia pagar. Então, fiz um bebê especialmente para ela, cobrando apenas o custo do material. Para mim, reborn nunca foi sobre venda. Era adoção. Entregávamos com certidão de nascimento, digital do pezinho e roupinhas de verdade, inclusive de marcas infantis”, recorda.

Arranhões comuns na pele do bebê e até as veias na testa, braços e pernas são vistos na arte reborn depois de pronta

Repercussão nas últimas semanas no Brasil

O tema voltou à tona após celebridades como Gracyanne Barbosa e o padre Fábio de Melo compartilharem suas experiências com bebês reborn nas redes sociais. A partir daí, milhares de vídeos tomaram conta do TikTok e Instagram, mostrando rotinas com os bonecos — de banhos a passeios — enquanto mães reborn organizam encontros públicos, como o que ocorreu recentemente no Parque Ibirapuera, em São Paulo.

Aloízia se diz surpresa e emocionada com a dimensão que o assunto tomou. “É gratificante ver que aquilo que muitos viam como ‘brinquedo caro’ ou ‘mania’ hoje está sendo compreendido como arte e, para muitas pessoas, até uma forma de acolhimento emocional.”

A parte mais demorada é implantação de cada fio de cabelo

Bebê reborn existe na Europa há mais de 40 anos e no Brasil há mais de 20

Aloízia lembra que a arte reborn surgiu na Europa na década de 1980 e chegou ao Brasil no início dos anos 2000. “Tudo o que hoje vemos viralizado nas redes sociais — os vídeos emocionantes, as reações de carinho, os encontros de mamães reborn, as festas de aniversário dos bebês — já acontecia naquela época. Já existiam mulheres que adotavam bebês reborn por razões afetivas profundas, inclusive mulheres que não podiam engravidar e encontravam nesses bebês um conforto, uma forma de viver a maternidade de maneira simbólica e sensível. A grande diferença é que, em 2013, a internet não tinha o alcance que tem hoje. As redes sociais estavam engatinhando. Instagram e TikTok, por exemplo, nem existiam como conhecemos hoje. Tudo acontecia em nichos, em grupos fechados, fóruns ou páginas específicas. Hoje, em 2025, basta um vídeo para que a arte reborn alcance milhões de pessoas em poucas horas”, afirma Iza.

Veja que realmente os traços confundem com bebê humano

“Essa visibilidade tem seu lado bom e ruim. O lado bom é que a arte finalmente está sendo reconhecida por muitas pessoas que antes não conheciam ou não compreendiam o universo reborn. Isso é gratificante para quem, como eu, já caminhava nesse mundo há mais de uma década. O lado ruim dessa viralização é o preconceito que vem junto. Muita gente julga, sem entender, sem buscar escutar a história por trás de cada bebê reborn. Começam a rotular as mamães reborn como pessoas ‘loucas’, com ‘depressão’ ou que ‘precisam de tratamento psiquiátrico’. Isso não é só injusto, é desrespeitoso. Cada pessoa tem sua relação única com seu bebê reborn, e muitas vezes essa relação está carregada de amor, memória, superação. A arte reborn vai muito além de uma simples boneca. É arte, é expressão, é cuidado. E para mim, foi também um caminho de descoberta, criatividade e conexão com muitas histórias bonitas ao longo desses anos. Portanto, concluo que os encontros, festas de aniversário com bebês reborn sempre existiram. Tantas coisas acontecem na vida, e as pessoas são vistas como ‘loucas’ apenas por serem diferentes. Mas há episódios recentes que realmente deixam de ser um culto à arte — e aí, sim, as famílias precisam estar atentas e cuidar.”

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