Território do sisal – O clima político em Retirolândia ganhou novos contornos após declaração em uma live do advogado e ex-vereador de Retirolândia, Áquiles Nereu, que apontou supostas irregularidades, sobretudo na área de saúde e abriu um polêmico debate, já que o ex-vereador foi um dos principais nomes de apoio a candidatura de Guene do Contador a prefeito, cujo mesmo saiu vitorioso na eleição de 2024.

No último fim de semana repercutiu a informação de que o prefeito Guene (PSB) tinha encerrado o contrato com o escritório de advocacia de Nereu, após publicação de uma foto com um litro de wisky que ele teria registrado dentro do gabinente do prefeito. Nereu fez a live e afirmou que o assunto da foto estava sendo usado como uma ‘cortina de fumaça’ para esconder problemas maiores na saúde, citando irregularidades nos pagamentos indevidos a partir de um contrato com o Instituto Strategic – Instituto de Fomento, Colaboração e Apoio à Gestão Pública e Privada, sediado em Salvador.

As declarações despertaram os vereadores da bancada de oposição. O vereador Sandro da Vargem (PT) anunciou que, como membro do grupo oposicionista, pedirá aos demais colegas a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar uma série de acontecimentos que têm provocado a crise e desconfiança na administração municipal.

Além de Sandro, também compõem a bancada de oposição os vereadores Hugo da Economia (PT), Reinan da Coreia (PSD), Néia da Saúde (PSD) e Dhon do ACM (PCdoB).

Em entrevista ao Calila Notícias, Sandro afirmou que os parlamentares deverão pautar e protocolar, em comum acordo, o pedido de criação da CPI nos próximos dias. Entre os pontos que serão alvo de questionamento está o fim do contrato entre a prefeitura e o escritório de advocacia de Aquiles, com detalhamento sobre o valor mensal pago, a área jurídica atendida e os motivos que levaram à rescisão do vínculo.

No entanto, o principal foco da apuração será o contrato com o Instituto Strategic, que também presta serviços à administração municipal. Segundo os vereadores, há indícios de superfaturamento nos valores pagos e cobrança pela apresentação de uma nota fiscal que, segundo o advogado Aquiles, teria sido emitida com valor superior ao necessário para o pagamento dos médicos.

“Tudo isso precisa ser esclarecido. O que o advogado disse hoje na live dele é gravíssimo e expõe situações internas da prefeitura que a população precisa conhecer. É papel da oposição fiscalizar, buscar respostas e punir quem tiver culpa”, declarou Sandro da Vargem (PT) ao Calila Notícias.

A vereadora Néia da Saúde (PSD), em seu segundo mandato e filha do líder político Beto, da comunidade de Laginha, afirmou estar “estarrecida” com o que vem sendo revelado e cobrou esclarecimentos diretos do prefeito Guene. “Desde a gestão de Bequinho, passando por André e Vonte, eu sempre frequentei a prefeitura e nunca ouvi falar de uísque no gabinete do prefeito. Eu chego a duvidar que isso tenha acontecido, é algo que não combina com a rotina que sempre vi lá dentro.”

Ela também demonstrou preocupação com a possibilidade de emissão de notas fiscais acima do necessário e defendeu uma investigação profunda. “Guene tinha uma postura de discurso, uma postura de luta, de esclarecimento na Câmara em seus discursos. Agora queremos que ele faça a mesma coisa: explique à Câmara o que está acontecendo. Nós vamos cobrar essa posição do prefeito. Queremos um esclarecimento com detalhes.”

O vereador Reinan da Coreia (PSD) reforçou que a instalação da CPI não é uma ação de confronto político, mas um instrumento de transparência e responsabilidade com o dinheiro público. “Nosso compromisso é com a verdade e com a população de Retirolândia. Não se trata de perseguição, mas de fiscalização. Onde houver erro, é nosso dever fiscalizar. Em uma democracia, todos têm o direito de se defender, mas também é nossa responsabilidade, como cidadãos e legisladores, garantir que nossos direitos sejam respeitados e que a justiça seja feita, independentemente de quem seja afetado”, afirmou Reinan.

O Calila Notícias conseguiu ouvir Sandro da Vargem (PT), Néia da Saúde (PSD) e Reinan da Coreia (PSD), que confirmaram a articulação para a criação da CPI. Hugo da Economia (PT) não foi localizado para comentar.

O presidente da Câmara, vereador Dhon do ACM (PCdoB), informou que só irá se manifestar oficialmente após o protocolo do pedido de CPI, mas deixou claro que, caso seja apresentado, irá colocar a proposta para tramitar.

Segundo Dhon, se a CPI for instaurada, será a primeira Comissão Parlamentar de Inquérito em 63 anos de história de Retirolândia. Ele disse que prefere aguardar a formalização da proposta antes de emitir posicionamento completo, mas garantiu que, uma vez protocolado o pedido, cumprirá o regimento e colocará a CPI para funcionar.

O vereador da base governista, Beto do Ônibus (PSD), disse ao Calila Notícias que ainda não tem uma posição definida sobre a CPI. Ele afirmou que vai aguardar o andamento da situação antes de se manifestar publicamente, mas que, quando tomar uma decisão, informará à imprensa.

Com o alinhamento da bancada oposicionista, a expectativa é que a proposta de criação da CPI seja apresentada à Câmara ainda esta semana, intensificando o debate político no município e pressionando a administração municipal a dar explicações públicas.