Exportadores de café brasileiros reforçaram nesta quarta-feira (16) que não trabalham com a possibilidade de ruptura no fornecimento da commodity aos Estados Unidos, mesmo após o anúncio do governo norte-americano de uma tarifa de 50% sobre o produto, válida a partir de 1º de agosto. A avaliação é do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), que afirma haver um clima positivo para negociações e avanços significativos nas conversas com representantes comerciais dos EUA.
A declaração foi feita durante uma coletiva de imprensa promovida pelo Cecafé, em meio a tensões comerciais que têm preocupado parte do agronegócio brasileiro. O café, entretanto, desponta como uma exceção, sustentada por sua importância para o mercado consumidor norte-americano e pela longa parceria entre os dois países no setor cafeeiro.
Exportadores de café negociam com autoridades dos EUA para evitar impactos
O cenário atual é de cautela, mas com confiança. Desde a imposição anterior de uma tarifa de 10%, os exportadores de café do Brasil, por meio do Cecafé, já vinham mantendo diálogo constante com entidades norte-americanas, incluindo a National Coffee Association (NCA), que apoia a exclusão do produto da lista tarifária.
Segundo Marcos Matos, CEO do Cecafé, as tratativas estão adiantadas e demonstram boa receptividade por parte dos setores comerciais dos EUA. “As discussões estão avançadas e podem inclusive servir como ponte para futuras cooperações. O nível de parceria que temos com o mercado americano é muito sólido”, afirmou.
O presidente do conselho deliberativo do Cecafé, Márcio Ferreira, também reforçou a avaliação positiva. Para ele, o ambiente nos Estados Unidos é sensível ao peso do café brasileiro na economia local. “O café representa uma parcela importante do consumo americano, tanto em termos de qualidade quanto de volume”, destacou.
Atualmente, os Estados Unidos são o principal destino do café do Brasil. Aproximadamente um terço de todo o café consumido no país tem origem brasileira, o que torna a relação comercial entre as duas nações estratégica para o setor.
Café brasileiro continua sendo embarcado, mesmo com incertezas
Apesar do anúncio da nova tarifa, os embarques de café brasileiro aos EUA seguem normalmente. De acordo com o Cecafé, não houve qualquer suspensão de exportações até o momento. Ainda que importadores estejam mais cautelosos antes de fechar novos contratos, as negociações continuam fluindo.
Ferreira explicou que, no comércio internacional, momentos de instabilidade são comuns, mas que o setor tem conseguido manter os fluxos logísticos. “Não há paralisação. O que existe é uma maior prudência nas negociações, aguardando clareza sobre a aplicação efetiva da tarifa”, disse.
Enquanto isso, traders estão correndo contra o tempo para antecipar o envio de grandes volumes de café ao mercado norte-americano. Reportagem recente da Reuters revelou que embarcações estão sendo redirecionadas no meio do caminho e que estoques em países vizinhos estão sendo utilizados para agilizar o abastecimento dos EUA antes da entrada em vigor da nova alíquota.
Brasil busca novos mercados, mas EUA continuam sendo prioridade
Embora o Brasil esteja de olho em mercados alternativos, como a China, os exportadores de café reconhecem que é impossível substituir de forma imediata o volume absorvido pelos EUA. A adaptação exige planejamento e tempo, principalmente diante da alta demanda global e do cenário atual de produção apertada.
Segundo Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé, a busca por novos mercados é constante, mas o redirecionamento de carga não ocorre de maneira instantânea. “Temos grandes potenciais de crescimento em outros destinos, como a Ásia. No entanto, estamos falando do maior consumidor mundial de café. Não é algo que se compensa de um mês para o outro”, explicou.
Outro fator que dificulta a substituição do Brasil é o papel específico que o grão brasileiro desempenha nos blends americanos. O perfil sensorial do café nacional — conhecido por seu corpo e doçura — é fundamental na composição de bebidas amplamente aceitas no mercado dos EUA. Isso torna difícil para torrefadores norte-americanos abrirem mão da origem brasileira, mesmo que os custos aumentem.
Fonte: Melhor Investimento