Estão de vento em popa as conversas entre ACM Neto (União Brasil) e João Roma (PL) para 2026. O mais provável é que o controlador do PL na Bahia saia candidato ao Senado na chapa do líder das oposições no Estado. Mas as negociações entre eles devem prosseguir até pelo menos o anúncio da candidatura ou das candidaturas oposicionistas à Presidência da República, quando Neto poderá dispor daquilo com que não contou em 2022 e lhe foi fatal: um nome nacional para chamar de seu. O cálculo do ex-prefeito de Salvador em relação a Roma é pragmático: ele precisa dos votos do bolsonarismo na Bahia, segmento em que Roma entra a partir de um apelo do ex-presidente.
Por isso, a dor de Neto por ter sido traído por até então um de seus melhores colaboradores a quem julgava também um amigo deve ser esquecida. Por enquanto, é neste ponto que os dois trabalham: um rito de reaproximação que lhes permita conviver politicamente sem a condição de antes, em que Neto era o líder absoluto e Roma, seu liderado. O ressentimento do representante do PL em relação ao chefe ficou claro numa frase lapidar, durante um debate na sucessão de 2022, em que Roma saiu candidato ao governo exclusivamente para dificultar a eleição do ex-aliado. “Eu passei 20 anos limpando o chão para esse cidadão”, lamuriou-se o candidato do PL num momento do confronto.
Apesar de alegar uma suposta origem aristocrática em Pernambuco, sua terra natal, consta que Roma chegou à Bahia na lona. Hoje, seria um potentado, graças às portas que o acesso a Neto lhe abriu e a outras que persistiu escancarando quando chegou à inesperada condição de ministro da Cidadania do governo Jair Bolsonaro. Por esta razão, sua decisão de abandonar o amigo para agarrar-se a Bolsonaro, um contra-líder em cujo sucesso quem tinha boa cabeça jamais acreditou, causou um enorme rebuliço político, a ponto de ter sido vista, no primeiro momento, e de forma equivocada, como uma armação, um jogo combinado entre ele e o ex-prefeito.
O clima entre os dois azedou principalmente porque Neto não soube pela boca do também compadre sobre sua decisão de virar ministro, num momento delicado para ele, em que evitava a todo custo se associar à figura de Bolsonaro, por quem nunca teve a menor simpatia. Foi informado por meio de um jornalista importante de Brasília, que lhe ligou interessado em saber qual era sua opinião sobre a ida de Roma para o governo. O golpe deve ter sido grande, já que no dia anterior o ex-colaborador lhe assegurara que não havia hipótese de aceitar o convite para o ministério. Ferida cicatrizada, Neto não deve contar apenas com Roma para o Senado.
O ex-deputado Marcelo Nilo (Republicanos) tem sido cotado para a segunda vaga, assim como o senador Angelo Coronel, no caso de conseguir levar para o candidato a governador o PSD de Otto Alencar, um dos mais importantes aliados do petismo na Bahia na atualidade. Coronel é uma aposta porque tem sido ameaçado de exclusão da chapa pelo PT, em especial pelos caciques Jaques Wagner e Rui Costa. Neto também trabalha para fazer o prefeito de Jequié, Zé Cocá, seu candidato a vice, mas o progressista ainda permanece de namoro com o governador Jerônimo Rodrigues (PT), que vai disputar a reeleição e não perde a oportunidade de puxar um prefeito para perto.
*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.