Se alguém te pedisse para trabalhar de graça até o final do ano, você aceitaria? Provavelmente não. Mas é o que de certa forma ocorre com as mulheres, na visão de um grupo de ativistas por igualdade de salários, que, levando em conta a diferença salarial entre homens e mulheres na Grã-Bretanha (14,2%), calculou que as britânicas "pararam de receber" neste ano na segunda-feira passada, dia 9. Em um mundo com salários iguais para o mesmo trabalho, homens e mulheres trabalhariam 365 dias por ano recebendo o mesmo. No Brasil, devido à desigualdade de salários entre homens e mulheres no Brasil, elas já estão trabalhando "de graça" desde o dia 19 de outubro. O cálculo foi feito com base em estatísticas do IBGE pela especialista em economia de gênero Regina Madalozzo, do Insper, a pedido da BBC Brasil. Segundo o IBGE, a diferença média entre os salários de homens e mulheres no País, para quem trabalha 40 horas por semana, é de 20,32%. Como trabalham os mesmos 365 dias, é como se esse finalzinho do ano fosse de graça. Elas só recebem pelo trabalho de 291 dias – completados no último dia 18. A partir daí, passaram a trabalhar sem receber por isso. A metodologia é a mesma usada no Reino Unido para marcar o "Equal Pay Day", um dia de luta pela igualdade de salários entre homens e mulheres. No país, que tem uma diferença salarial menor do que a do Brasil (14,2%), a última segunda-feira foi o dia em que elas "pararam de receber". No caso do Brasil, foram usados os dados ajustados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2013, último dado disponível. Segundo a pesquisa, o salário médio dos homens é de R$ 1.886,50 e o das mulheres, de R$ 1.503,17. Esses valores foram calculados com dados de pessoas entre 16 e 65 anos de idade que trabalham no mínimo 40 horas por semana. A conta usa a média salarial de pessoas em diferentes profissões. Mulheres costumam seguir carreiras com salários menores, como enfermagem, e homens têm profissões mais bem remuneradas, como engenharia. Segundo Regina, esse cálculo base é usado internacionalmente porque leva em conta que a discriminação pode ocorrer na hora da escolha da carreira. "Sim, mulheres escolhem profissões que pagam menos. Mas essas profissionais merecem um salário menor ou paga-se menos nelas porque há muitas mulheres? E por que as mulheres optam menos que os homens por engenharia, por exemplo? Por que elas se acham piores em matemática?", questiona. "Quando você considera apenas pessoas que estão na mesma profissão, é como se você admitisse que não há um problema, que não existe preconceito em relação à escolha profissional", diz ela. "A média considera que podem haver outros preconceitos que influenciam na escolha profissional", completa a especialista. Quando o cálculo é feito considerando a escolaridade, os dias trabalhados "de graça" por elas aumentam ainda mais para alguns grupos. Isso ocorre porque, no Brasil, quanto mais escolarizada é uma mulher, menos ela recebe em comparação aos homens com o mesmo nível de estudo. As mulheres que têm nível superior completo, por exemplo, estão trabalhando sem receber nada, teoricamente, desde o dia 13 de agosto.

