Das cerca de mil denúncias de intolerância religiosa registradas no Rio de Janeiro nos últimos quatro anos, mais de 70% foram de crimes praticados contra religiões de matriz africana. A informação está em relatório da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, divulgado hoje (21), dia nacional de enfrentamento desse tipo de discriminação. O coordenador do Relatório de Intolerância Religiosa, babalawo Ivanir dos Santos, ressaltou que os dados – coletados nacionalmente de dez fontes distintas – não dialogam, o que evidencia a ausência de uma base nacional de informações sobre casos de intolerância religiosa. “Não temos dados consolidados, embora sejam muito representativos e mostrem que os casos não são isolados. Mas precisamos de uma politica nacional para combater esse problema, pois acredito que os dados estejam subestimados, muitos casos não chegam até nós”. De acordo com o Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos (Ceplir), do governo do Rio, responsável pelo atendimento às vítimas de intolerância religiosa, as denúncias de crimes contra religiões afro-brasileiras representaram 71,15% dos casos nos últimos quatro anos. Entretanto, em 2015, de setembro a dezembro, 32% dos casos de intolerância denunciados foram contra muçulmanos, seguidos de 30% contra candomblecistas, indígenas (6%), agnósticos (5 %), pagãos (3 %) e kardecistas (3%). Em todo o Brasil, de acordo com a Secretaria de Direitos Humanos, entre 2011 e 2015, foram registrados 697 casos de intolerância religiosa, denunciados pelo Disque 100. Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais encabeçam a lista de denúncias, com 131, 128 e 64 casos, respectivamente. Já os registros da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) revelam que os pardos e negros são as principais vítimas de intolerância religiosa, com 34,66% dos casos; os brancos foram vítimas em 22,38% das denúncias. Em relação ao perfil dos responsáveis pela discriminação religiosa, os suspeitos eram vizinhos das vítimas em 26,94% dos casos e, em 29,4% das denúncias, desconhecidos. Ivanir dos Santos chamou a atenção para o fato de que cerca de 5% dos agressores eram professores. “Esse é um dos dados mais alarmantes, pois mostram que agentes da educação agridem crianças e jovens de religiões diferentes”, disse o babalawo. “Ou há um mau uso da educação religiosa ou há resistência à Lei 10.639, que fala da história da África e do negro no Brasil”, ponderou.
