Após a polêmica envolvendo a nova logo do governo federal, que o presidente interino Michel Temer adotou na última semana ao assumir o cargo, o publicitário Elsinho Mouco, responsável pela criação da identidade visual, explicou sobre quem bateu o martelo na decisão final. "Quando entrou na sala, ele olhou e falou 'que lindo', com uma expressão de criança mesmo, verdadeira e emocional. Se uma criança gosta, é porque a gente tem algo puro, tem algo bom na mão. Foi o Michelzinho quem escolheu a marca", relatou Mouco. De acordo com o profissional, o filho de sete anos do peemedebista se encantou pela imagem que seu pai vai usar para vender o atual momento político. Duas versões foram apresentadas para Temer e sua mulher, Marcela, às vésperas do afastamento da presidente Dilma. Segundo a Folha de S. Paulo, Michelzinho preferiu a esfera celeste com uma faixa dizendo "Ordem e Progresso" flutuando sobre a palavra "Brasil". Ao que parece, a escolha fofa de uma criança não reflete o que as tendências de design atual esperavam. Publicitários destacam que o traço retrô da marca escolhida contrasta com o modernismo e simplificação dominantes na área dos dias de hoje, podendo passar uma imagem de retrocesso. Júri do prêmio de design do Museu dade design Casa Brasileira, Rico Lins, diz que a marca de Temer lembra uma espécie de "Globo requentada". "É superconservador, retrógrado", afirma o jurado. Hans Donner, criador da identidade visual da TV Globo, foi citado por vários designers para fazer a comparação com a peça de Mouco. A diferença é que no caso da emissora, a logomarca foi desenhada em um guardanapo em 1974. "Não tem uma mensagem nova. É uma marca muito feia, muito 'coxinha' e feita às pressas. Não tem estudo, elegância. Parece uma coisa do Hans Donner de 50 anos atrás. Já mostra de cara uma certa caretice e ranço desse governo", critica o designer Milton Cipis, da agência Brander. "Não é moderno, jovem, não tem esperança, não tem nada", completa. A própria Globo vem tentando suavizar os traços de Donner. Justamente por isso o estranhamento gerado pela marca federal, com cara de "cartela de novela antiga", na opinião de jovens designers. "O doutor Michel queria uma marca límpida, clara, simples como ele é", diz o publicitário. "Não fiz nada demais, mas estou vendo que bombou mesmo", declara o publicitário, provavelmente só se referindo ao lado positivo das críticas sobre seu trabalho. Para rebater os contrários, ele falou sobre a falta de elegância do logotipo, dizendo que a marca reflete o estado de caos nas contas públicas e na saúde do país, além da alta do desemprego. Há quem saia a favor da logo, como é o caso de um dos maiores especialistas em design gráfico do país, Chico Homem de Melo: "Em vez de criar um novo slogan, num momento em que está falando em união nacional, ele usa o que está escrito na bandeira, que é o maior ícone da nossa identidade", afirma. "Achei inteligente como saída para o momento político, correta e adequada para os fins do Temer."
