Embora mantenha um relacionamento com uma mulher há mais de duas décadas, a psicóloga argentina Susana Blois, de 71 anos, considera que apenas recentemente conseguiu "sair do armário". "Nós somos nossos próprios algozes homofóbicos por medo, por achar que não vão nos entender, que vão nos recriminar", conta ela, que diz hoje se sentir "mais tranquila" consigo mesma. Blois atribui essa guinada em sua vida a um contato maior com gays de sua geração, viabilizado por uma associação que ajuda idosos argentinos a aceitarem e, caso queiram, assumirem sua orientação sexual perante a sociedade. "Não tenho por que me esconder, como se estivesse fazendo algo errado ou cometendo um pecado. Hoje vivo melhor comigo e com as pessoas ao meu redor." Criado há seis anos para oferecer ajuda psicológica, atividades culturais e integração entre homossexuais que já passaram dos 65 anos, o centro foi uma ideia foi uma ideia do casal Graciela Balestra e Silvina Tealdi, que notou uma lacuna no apoio a esses integrantes da comunidade LGBT. "Percebíamos que nos 'lugares hétero' havia sempre alguém buscando um marido ou uma esposa para a pessoa que não estava interessada. Notamos que faltava esse lugar de encontro para idosos gays", diz Graciela. Localizado em um sobrado no bairro de Almagro, em Buenos Aires, o Centro de Aposentados e Pensionistas Lésbico-Gays da Argentina - antes conhecido como "Puerta Abierta a la Diversidad" (Porta Aberta à Diversidade) - promove oficinas de teatro, ginástica e festas em sua própria pista de dança. Nos grupos de reflexão, pessoas como Susana compartilham experiências de vida e histórias de preconceito. "É um lugar para que as pessoas falem sem medo. Aqui, muita gente com mais de 70 anos disse pela primeira vez, em voz alta: 'eu sou gay'", diz Graciela.
