A tarefa de escolher um pão integral na gôndola do supermercado é mais complicada do que parece. Apesar de existirem dezenas de opções de produtos disponíveis, muita gente acaba comprando um produto que na embalagem consta como integral, mas que, na realidade, não é. "Para ter certeza de que está levando um pão integral, é preciso olhar o rótulo. De acordo com as normas da Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária), a lista de ingredientes deve estar organizada por ordem de quantidade, ou seja, aquele que aparece em primeiro, existe em maior quantidade", explica o nutricionista Ricardo Zanuto, doutor em Fisiologia do Exercício pela USP (Universidade de São Paulo). Sendo assim, o pão só será integral se o primeiro ingrediente que aparecer na tabela for a farinha de trigo integral e não a farinha branca --também chamada de farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico. Semíramis Domene, nutricionista e professora do Departamento de Políticas Públicas e Saúde Coletiva da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), não recomenda a escolha de pães em que a farinha integral esteja apontada como segundo ingrediente na composição. "O primeiro ingrediente é o que vem em maior quantidade. Se a farinha integral ou o centeio aparecer como segundo ou terceiro item, não dá para saber se ela está em 49% da composição ou em apenas 1%, pois não é mais o ingrediente principal", afirma. De acordo com Semíramis, essa confusão acontece no Brasil por não haver uma legislação que defina com precisão o que é o alimento integral. "A Anvisa permite que os fabricantes rotulem o produto como integral se ele tiver esse tipo de farinha na composição, independentemente da quantidade utilizada", explica. O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) tem levado essa discussão junto à Anvisa para termos uma legislação para produtos integrais do ponto de vista da nutrição. Nos Estados Unidos, por exemplo, existem percentuais definidos: para o produto ser considerado integral é preciso ser composto de, no mínimo, 50% de grãos integrais. Procurada, a Anvisa confirmou que não existem critérios na legislação sanitária para produtos integrais e que, por isso, neste ano, a agência iniciou uma discussão para atualizar a norma. "A intenção dessa revisão é estabelecer os critérios mínimos para que os alimentos possam utilizar a declaração 'integral'", disse em nota. O processo está em fase inicial de pesquisas de referências internacionais e, em seguida, a proposta será submetida à aprovação da diretoria colegiada da agência.
