Pesquisadores da Universidade do Colorado e da Universidade de Wyoming, nos Estados Unidos, desenvolveram um material que pode ser uma alternativa ao ar-condicionado e a outros sistemas de refrigeração tradicionais. Em artigo publicado pela Science, os cientistas apresentaram uma película composta, sobretudo, por microfibras de vidro, capaz de dissipar energia térmica solar e, assim, provocar o efeito de resfriamento. Em entrevista ao site de VEJA, o pesquisador Xiaobo Yin, um dos responsáveis pelo projeto, explicou que, ao contrário dos sistemas comuns, que demandam recursos energéticos e consomem muita energia para realizar o resfriamento, a novidade se trata de um método alternativo e sustentável de manter os objetos e ambientes refrigerados. “Opera 24 horas por dia sem consumir eletricidade ou água. Mas, é claro, tem o porém de que é necessário construir um sistema térmico, com o material, ao redor do ambiente para oferecer o resfriamento quando precisarmos”, explicou ele.Leia mais...De acordo com o pesquisador, o novo dispositivo é promissor e pode satisfazer às necessidades de aplicações residenciais e comerciais. Uma das aplicações possíveis é utilizar a película para produzir um aparelho de ar-condicionado doméstico de teto, que não necessitaria de eletricidade para funcionar. Uma instalação de 20 metros quadrados da nova película (que ainda não ganhou nome) habilitaria uma refrigeração boa o suficiente para uma casa com aproximadamente 180 m². Mas as aplicações em larga escala também são viáveis, segundo Yin: “Podemos imaginar um sistema maior construído, por exemplo, em uma usina termoelétrica para diminuir o calor de seus motores, sem o uso de água. Vale lembrar que as usinas de energia são responsáveis por 1/3 do consumo total de água nos EUA”. Alguns materiais existentes já obtiveram êxito nesse tipo de resfriamento natural e passivo, porém todos os casos de sucesso foram realizados durante a noite. O resfriamento diurno apresentava um desafio diferente, pois a absorção de energia térmica solar durante o dia excedia a potência de resfriamento do material, o que resultava no aumento da temperatura superficial. A novidade é que os cientistas conseguiram utilizar tal método durante o dia, e os experimentos apresentaram resultados positivos mesmo sob a intensidade do calor dos raios solares. O material é leve e, segundo os pesquisadores, sua produção em larga escala é relativamente fácil. Os cientistas esperam que o sistema esteja disponível em breve no mercado, já que os custos de produção são baixos. “Demonstramos a rentabilidade de produção das películas. Nossas análises evidenciam que o metro quadrado do equipamento custa cerca de R$ 1,50 para ser produzido e, esse preço, inclui material, equipamento e mão de obra”, esclareceu Yin. A criação do novo material é inspirada no modelo de refrigeração natural da Terra. Diariamente, a superfície terrestre absorve parte da energia térmica emitida pelo Sol e, o restante, retorna ao espaço por meio de um processo natural. Na tentativa de reproduzir esse método, o material de refrigeração foi desenvolvido em laboratório. Para tal, os pesquisadores fabricaram uma fina película constituída por polímeros transparentes, com microfibras de vidro distribuídas aleatoriamente, e revestida por uma camada de prata. A combinação de materiais é capaz de refletir 96% da irradiação solar em condições ambientais similares ao de um meio-dia ensolarado. Assim, replica-se o efeito de um ar-condicionado.

