A expectativa dos investidores de que o governo mudará de mãos em breve e as atenções voltarão a se concentrar na economia, em vez de na crise política, fez a Bolsa subir 1,13% e o dólar recuar para R$ 3,26 nesta segunda-feira (10). A avaliação é de analistas ouvidos pela reportagem. Segundo eles, o presidente Michel Temer perdeu condições políticas de aprovar a reforma da Previdência sem fazer concessões que podem descaracterizar o projeto e os objetivos fiscais nele envolvidos. Desta forma, a substituição do peemedebista pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) traria novos ares ao cenário político e asseguraria apoio maior para passar as mudanças na aposentadoria. O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas da Bolsa brasileira, operou em alta com 63.025 pontos, depois de quatro sessões seguidas de queda. O volume negociado foi de R$ 5,545 bilhões, abaixo da média diária do ano, que é de R$ 8,16 bilhões -em parte já por causa do período de férias nos Estados Unidos, que reduz a liquidez no mercado brasileiro. O dólar fechou em baixa, influenciado pelo retorno da atuação do Banco Central no mercado de câmbio. O dólar comercial teve baixa de 0,73%, para R$ 3,261. O dólar à vista teve desvalorização de 0,60%, para R$ 3,263. No campo político, a notícia aguardada era o voto do deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ), relator da denúncia contra Temer feita pela PGR (Procuradoria-Geral da República). O presidente é acusado de crime de corrupção passiva. Zveiter deu parecer favorável à denúncia.
"O mercado chegou a um consenso de que o Temer precisa sair, mas que seja mantida a equipe econômica. Há setores na economia mostrando recuperação, como indústria, comércio e varejo. O que tem de ruim é a parte política nesse momento", avalia Marco Tulli, gestor da mesa de operações da corretora Coinvalores. "O que foi absorvido é que o mercado aceitaria um Maia na continuidade do governo desde que o Temer se afastasse e que a equipe econômica fosse mantida", diz. A leitura de Adeodato Neto, estrategista da Eleven Finacial, vai na mesma linha. "A gente está vendo uma deterioração da situação de Temer em um nível aparentemente insustentável. A troca dá um alento, um ar. Temer está em modo 'salve-se quem puder' sozinho. O Maia chega com algum capital político e explicitamente com agenda reformista", avalia. "O capital político de Temer acabou. Se ele continuar no poder, vai fazer de tudo para sobreviver, fazendo acertos para se manter e com interesses que não são necessariamente republicanos e alinhados com mercado e economia", complementa.
