O embaixador do Israel no Brasil, Yossi Shelley, comparou, em entrevista exclusiva à Empresa Brasil de Comunicação (EBC), o presidente Jair Bolsonaro ao político e diplomata brasileiro Oswaldo Aranha. Em 1947, o então chefe da delegação brasileira presidiu a sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas que levou à criação do Estado de Israel. Aranha é reverenciado pelos israelenses até hoje. “O nome de Oswaldo Aranha foi significante para a criação do Estado de Israel. Agora Jair Bolsonaro é um segundo Oswaldo Aranha porque ele faz uma coisa incrível: é mudar a história”, afirmou o embaixador. Em março, Bolsonaro pretende ir a Israel e deve viajar acompanhado de um grupo de empresários. O objetivo é incrementar o comércio bilateral e a troca de tecnologias. “Ele vai receber as honras de um rei. Eu prometo isso. Vou estar ao lado dele e vou segurar a mão dele. Amo o Brasil. Amo o povo de Israel.”
Antes da viagem do presidente da República, o ministro da Ciência e Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, vai visitar Israel. Ele discutirá projetos para um futuro acordo sobre água e dessalinização. A disposição, segundo o embaixador, é para as propostas para o Nordeste e o interior do país.
A seguir, os principais trechos da entrevista do embaixador israelense à EBC.
Agência Brasil: Como o senhor observa esse novo momento das relações entre Brasil e Israel?
Yossi Shelley: O nome de Oswaldo Aranha foi significante para a criação do Estado de Israel. Agora, Jair Bolsonaro é um segundo Oswaldo Aranha porque ele faz uma coisa incrível: mudar a história. Hoje a nova diplomacia é a economia. As preocupações estão voltadas para melhorar a economia e o bem-estar do povo. O povo precisa de boa comida, educação, inovação e segurança. Isso é o que conta.
Agência Brasil: O primeiro-ministro de Israel passou cinco dias no Brasil, o que representou isso para os projetos de parceria?
Yossi Shelley: Isso foi uma coisa incrível. O primeiro-ministro [Benjamin] Netanyahu nunca deixa o país por tanto tempo. No máximo dois, três dias. Mas quase uma semana! Isso é graças ao presidente Bolsonaro. Quando há um carinho do outro lado, Israel vai atrás. Netanyahu e Bolsonaro conversaram sobre segurança pública, a dessalinização, como acabar a seca do Nordeste brasileiro, satélite, como vigiar a fronteira, e vocês têm uma fronteira gigante de 17 mil quilômetros.
Agência Brasil: Como estão os preparativos para a visita do presidente Jair Bolsonaro a Israel?
Yossi Shelley: Esse planejamento vai ser muito especial. Vamos dar carinho e amor. Ele vai conhecer empresas que fazem história, como Waze e Mobileye. Esperamos que ele leve 40 ou 50 empresários. Negócios se fazem entre homens de negócios. Há coisas grandes feitas com o governo, mas o mercado trabalha com empresário. Ele vai receber as honras de um rei. Eu prometo isso. Vou estar ao lado dele e vou segurar a mão dele. Amo o Brasil. Amo o povo de Israel.
Agência Brasil: Qual a expectativa dos israelenses sobre transferência da Embaixada brasileira de TelAviv para Jerusalém?
Yossi Shelley: Primeiro o governo brasileiro é soberano para dizer quando. A transferência acontecerá, mas aguardamos o momento. Estamos muito felizes com a transferência. Deixa o tempo definir. O presidente [Donald] Trump [dos Estados Unidos], quando assumiu o cargo, também citou que iria transferir a embaixada. Oito meses depois fez isso. Essas coisas não serão obstáculos para a nossa relação.
Agência Brasil: O que será feito neste semestre para o fortalecimento da parceria Israel-Brasil?
Yossi Shelley: O ministro Marcos Pontes vai visitar Israel. Precisa fazer um acordo sobre água e dessalinização e levar essas plantas para o Nordeste, levar máquinas para o interior. Seis máquinas já estão lá. Serão 70. Leva as máquinas, perfura a água salobra, aplica a tecnologia e faz isso já, já, em dois ou três meses. Se demorar dois ou três anos, a cadência vai acabar.
Agência Brasil: O Brasil tem déficit na balança comercial de US$ 848 milhões. O senhor confia em mudar esse cenário?
Yossi Shelley: Há um grande projeto agora: Israel quer comprar carne congelada. Em Israel, o governo tomou a decisão de parar de importar animais vivos. Temos um decreto que até setembro de 2019 Israel vai parar de comprar carne viva. O mercado de Israel de carne congelada pode superar US$ 200 milhões ou US$ 300 milhões por ano. Quando se matam os animais, eles são exportados em geladeiras gigantes em temperatura de 1 grau.
Agência Brasil: A possibilidade de um acordo comercial entre Brasil e Estados Unidos poderia ter a ajuda da comunidade de Israel que vive em território norte-americano?
Yossi Shelley: Vocês exportam 25% do alumínio e do ferro para os Estados Unidos. Há alguns meses os Estados Unidos aplicaram taxas sobre isso. Quando há relações boas, é possível fazer um acordo como o Mercosul [bloco que reúne Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai). Pode-se pensar em um pequeno Mercosul sem taxas. Quer saber quanto vale isso? Bilhões. É preciso aprofundar as relações, aprofundar os negócios, fazer delegações de empresários, pensar na votação da ONU, apoiar Estados Unidos, apoiar Israel. Essas coisas que os amigos fazem.
Agência Brasil: Poderia explicar como seria a cooperação dos dois países na área de satélite?
Yossi Shelley: Vocês têm a Base de Alcântara. Pode haver uma parceria entre os dois governos. Não somente comprarmos, mas construirmos juntos satélites. Porque o satélite está muito importante para a nossa vida. O celular que se usa, wifi, você pode olhar as fronteiras, olhar as pessoas, ouvir pessoas que estão andando na rua, com a ajuda do satélite. Isso é muito bom para a segurança, para a vida, para a educação. Com satélite, você quer fazer cirurgia de longe. Se tem satélite, pode fazer isso.
Agência Brasil: Israel pode enviar técnicos e tecnologias?
Yossi Shelley: Não queremos vender. Temos 200 empresas que trabalham no Brasil. Por exemplo, temos duas empresas de segurança israelenses-brasileiras. Essas fazem um volume de negócios superior a US$ 200 milhões. Esse dinheiro não entra em Israel. Vendem para a Tailândia. Existem seis empresas israelenses na área de segurança cibernética. Algumas são parceiras com empresas brasileiras. 50% do Brasil, 50% de Israel. Quando recebem dinheiro, não vai para Israel. Por isso, isso toma um volume de recursos muito grande que fica aqui. Poderemos fazer um projeto, dois projetos, de dessalinização. O projeto vai ser US$ 3 bilhões para Israel, US$ 1 bilhão para o Brasil. Significa que você perde? Não. Não olhe esse negócio centavo a centavo.
Agência Brasil: Ampliar a segurança de fronteiras passa por aperfeiçoar o uso de tecnologias?
Yossi Shelley: Primeiro, fazer a inteligência, saber onde há pontos sensíveis porque, nesses 17 mil quilômetros, há lugares que ninguém não pode passar: rios, montanhas. Vocês têm uma fronteira gigantesca e podem usar carros sem motorista. Em outros lugares, coloca-se segurança. (Isto é)
