O nome de Vladimir Putin ganha destaque antes das negociações entre Estados Unidos e Rússia, que ocorrerão na terça-feira (18) na Arábia Saudita, com o objetivo de discutir o fim da guerra na Ucrânia.
A gestão de Donald Trump pôs fim ao isolamento internacional do presidente russo, minou a unidade ocidental no conflito e levantou dúvidas sobre o comprometimento dos EUA na defesa da Europa. Essa postura representou uma mudança drástica em direção a Putin e um afastamento dos tradicionais aliados americanos.
As primeiras declarações de assessores de Trump na Europa foram contraditórias, intensificando preocupações de que o presidente americano possa aceitar qualquer acordo com Putin, mesmo que seja prejudicial para a Ucrânia e para um continente cujas fronteiras estão sob ameaça do expansionismo russo.
A possibilidade de os EUA excluírem aliados europeus das negociações de paz, apesar de exigirem que esses países garantam segurança e enviem tropas para um eventual acordo, gerou alarme entre as capitais do continente. A França, por exemplo, convocou uma reunião emergencial em Paris nesta segunda-feira (17) com lideranças importantes.
Outra inquietação recai sobre a possível ausência da própria Ucrânia nas discussões decisivas para seu futuro como nação, após a invasão russa que trouxe consigo destruição, mortes de civis e crimes de guerra.
No domingo (16), Trump mencionou a possibilidade de um encontro iminente com Putin. Em conversa com jornalistas na Flórida, ele afirmou: “Estamos avançando. Estamos trabalhando muito para alcançar a paz entre Rússia e Ucrânia”. Após o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, declarar ao programa “Meet the Press”, da NBC, que “jamais aceitaria um acordo entre os EUA e a Rússia sobre a Ucrânia sem sua participação”, Trump deu uma resposta vaga, garantindo que estaria “envolvido”.
Negociações na Arábia Saudita
O secretário de Estado Marco Rubio, ao lado do conselheiro de segurança nacional Mike Waltz e do enviado para o Oriente Médio Steve Witkoff, liderará a delegação americana nas negociações organizadas pelos sauditas, que mantêm boas relações tanto com Moscou quanto com a administração Trump.
Rubio descreveu o encontro como uma continuidade da recente ligação telefônica entre Trump e Putin. Durante participação no programa “Face the Nation”, da CBS, no domingo (16), ele afirmou: “As próximas semanas e dias determinarão se isso é sério ou não. Uma ligação telefônica, por si só, não é suficiente para encerrar um conflito tão complexo”.
O secretário também contestou a declaração do enviado americano à Ucrânia, Keith Kellogg, que no sábado (15) sugeriu que, embora Kiev participasse das negociações, as nações europeias estariam excluídas. Rubio enfatizou que, para um processo legítimo, a Ucrânia precisaria estar envolvida, pois foi invadida, e os europeus também, já que impuseram sanções à Rússia e desempenharam um papel crucial no conflito.
Europa e as negociações
O ministro das Relações Exteriores da Polônia, Radek Sikorski, declarou em Munique no fim de semana que a recente conversa entre Trump e Putin foi um equívoco, pois teria “justificado” o líder russo e enfraquecido a moral da Ucrânia. Ele acrescentou que, caso um acordo envolva o envio de tropas europeias, os países do continente serão inevitavelmente envolvidos.
Ainda assim, as mensagens contraditórias da administração americana alimentam receios de que Trump possa selar um acordo com Putin que legitime a invasão russa e imponha seus termos à Ucrânia. Embora se reconheça que Kiev dificilmente retomará todos os territórios ocupados pela Rússia, Trump tem sido criticado por abrir mão de sua vantagem ao se aproximar do Kremlin.
O secretário de Defesa Pete Hegseth afirmou que qualquer acordo de paz não incluiria a adesão da Ucrânia à OTAN, nem envolveria tropas americanas em missões de manutenção da paz. Algumas dessas declarações foram posteriormente amenizadas por Hegseth e outros membros do governo.
As preocupações aumentaram depois que os EUA, na última semana, se apressaram em reabilitar a imagem de Putin, acusado de crimes de guerra, ao priorizar as narrativas da Rússia em detrimento das do Ocidente. Trump, por exemplo, demonstrou simpatia pelos argumentos do Kremlin para justificar a invasão e sugeriu o retorno da Rússia ao G8, grupo do qual foi expulsa após a anexação da Crimeia em 2014.
A falta de coordenação entre os EUA e a Europa sobre a Ucrânia, além da ausência de representantes de Kiev nas negociações na Arábia Saudita, compromete significativamente a posição do Ocidente. Autoridades europeias tendem a defender os interesses da Ucrânia mais do que Trump e, sem sua participação, Zelensky pode sair prejudicado.
Um discurso polêmico do vice-presidente J.D. Vance, durante a conferência de segurança de Munique, causou apreensão entre os líderes europeus. Ele também se reuniu recentemente com o partido de extrema-direita AfD, às vésperas das eleições na Alemanha, o que acendeu ainda mais os alertas sobre a inclinação populista do novo governo americano.
Além disso, a recente declaração de Hegseth em Bruxelas, alertando que os europeus devem assumir a responsabilidade por sua segurança, foi interpretada como um sinal do desinteresse de Trump pela OTAN e pelo compromisso de defesa mútua.
Tudo isso favorece Putin, pois sugere que seu isolamento internacional está chegando ao fim e que ele pode conseguir um acordo vantajoso na Ucrânia, consolidando suas conquistas territoriais. As divisões dentro da OTAN, aprofundadas por Trump, coincidem com um dos principais objetivos estratégicos da Rússia.
Alexander Gabuev, diretor do Carnegie Russia Eurasia Center, resumiu a situação em entrevista à CNN no domingo (16): “Para Putin, é como se fosse Páscoa, Hanukkah, Natal e seu aniversário ao mesmo tempo. Se alguma garrafa de champanhe ainda não estiver gelada, será colocada para resfriar agora”.
Fonte: CNN Brasil
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