“O boteco é ressoante como uma concha marinha. Todas as vozes brasileiras passam por ele.” – Nelson Rodrigues

Eu acredito que pesquisa eleitoral quantitativa seja essencial em qualquer eleição. Só nestas eleições municipais de 2024, foram realizadas em todo o país quase 15 mil pesquisas registradas. No entanto, também entendo que a pesquisa qualitativa é a base para uma estratégia sólida e, quem sabe, até mesmo vitoriosa.

Hoje, ouvi uma entrevista de Cícero Monteiro, em que ele afirmou ter encomendado cerca de 15 pesquisas eleitorais entre março e outubro de 2024 – uma média de uma pesquisa a cada quinze dias. Segundo Cícero, esses levantamentos indicaram que a rejeição ao prefeito Tiago Dias chegou aos incríveis 70%. Carlos Manhanelli, especialista em marketing político, afirmou certa vez que campanhas de reeleição são, essencialmente, plebiscitárias – ou seja, nelas, o atual gestor é julgado diretamente pelo eleitorado. Se os números mostravam uma rejeição irreversível de Tiago Dias, o maior problema da cidade estava claro: era o próprio prefeito.

Tiago Dias tornou-se um político antipatizado não apenas por problemas administrativos, mas por sua postura ou, talvez, pela ausência dela. Em vez de Cícero Monteiro e Mariana Oliveira se apresentarem ao eleitor como opostos ao prefeito, preferiram focar ataques em Valdice Castro, que administrou Jacobina há 12 anos. Contudo, a dor do eleitor estava no presente, e não em 2012.

Esse erro de leitura de cenário por parte de Mariana e Cícero contrastou com a estratégia assertiva que destacava Valdice como a única candidata de oposição real ao prefeito rejeitado, além de enfatizar que Valdice jamais se aliaria a Tiago Dias e que tinha a experiência comprovada para restaurar a cidade de caos administrativo que se encontra. A mensagem foi transmitida de forma eficaz, resultando em uma vantagem de votos que surpreendeu até parte do eleitorado, com mais de 6 mil votos de diferença.

Citando novamente Manhanelli, que é também autor de diversos livros sobre estratégias de campanha:

_”O que me interessa na pesquisa (qualitativa) é saber, primeiramente, quais qualidades a população busca no candidato; em segundo lugar, quais defeitos ela não suportará; e, em terceiro, qual imagem espera do futuro mandatário da cidade. A pesquisa deve nos mostrar isso: quais são os defeitos e as qualidades que a população enxerga. Se houver congruência entre a imagem e as qualidades desejadas, metade da campanha já está feita. Os outros 50% consistem em apresentar o candidato como ‘o que vocês querem, nós temos’.”_

Desde 2023, eu afirmava que quem venceria esta eleição seria aquele que o eleitor visse como o verdadeiro “anti-Tiago.” Afirmo isso, não me colocando como pitonisa política, mas como alguém que prefere ouvir as pessoas – até mesmo o que elas não dizem e que a pesquisa não mapeia. Esses ensinamentos podem ser resumidos na visão de Nelson Rodrigues, que ressaltava a importância de se ouvir as vozes das ruas.

Sim, pesquisa é essencial, mas não substitui a compreensão profunda das aspirações populares. A política exige mais do que dados; exige uma escuta atenta das ruas – pois, no final, são elas que contam a história das urnas.

José Antônio Valois é colaborador do Jacobina 24 Horas 

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