
Por José Antonio Valois
Pesquisa nacional do Instituto Opus mostra que reputação e clareza vencem viralizações exageradas nas redes sociais
Desde 2013, a política brasileira e as redes sociais caminham juntas em ritmo acelerado. Foi pelas redes que as grandes manifestações em torno do impeachment ganharam força e escala. Foi também nesse ambiente que a polarização política se acirrou e se espalhou como nunca antes.
Os políticos, por sua vez, entenderam o recado: as redes democratizaram a comunicação. A relação com o eleitor não depende mais apenas da imprensa tradicional ou da agenda de eventos. Agora, basta um celular na mão para falar diretamente com milhões de pessoas.
Mas é aí que está o primeiro grande ponto de atenção. Ganhar visibilidade, sim. Mas com qual propósito? Comunicar ideias, apresentar projetos, formar opinião pública? Ou apenas gerar engajamento a qualquer custo, mesmo que isso comprometa a credibilidade?
A pesquisa do Instituto Opus joga luz sobre esse dilema ao comparar dois estilos de comunicação distintos: o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o do prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga. Ambos já se colocaram ou são cotados como pré-candidatos à Presidência da República.
De um lado, Tarcísio, que soma 5,3 milhões de seguidores no Instagram, adota uma comunicação mais sóbria, institucional, centrada em ações e resultados. Do outro, Manga, com 3,5 milhões de seguidores, investe pesado em vídeos com estética apelativa, muitas vezes engraçados ou exagerados. É o que se costuma chamar de gatilhos para viralizar: dancinhas, reações escandalosas, cortes rápidos. Tudo para chamar atenção.
Do ponto de vista das métricas do Instagram, Manga vence com folga em engajamento e visualizações. Mas a pesquisa mostra que atenção não é sinônimo de voto.
A pergunta feita aos entrevistados foi direta:
“Tomando por base apenas a linguagem, estética e formato dos vídeos, em quem você votaria para presidente?”
O resultado: 76% disseram que votariam em Tarcísio. Apenas 17% escolheriam Rodrigo Manga.
Mais do que isso, 66% enxergam os vídeos do prefeito de Sorocaba como cômicos, exagerados ou sensacionalistas. Já Tarcísio é percebido como mais sério por 34%. Ou seja, a forma de se comunicar não apenas gera visibilidade, mas influencia diretamente a imagem pública de cada político em cenário nacional.
Esses dados reforçam um ponto crucial. As redes sociais são um meio de comunicação, não um fim. Viralizar pode até gerar alcance, mas isso nem sempre se converte em autoridade, voto ou reputação. Curtidas não vencem eleições. Reputação, sim.
É exatamente por isso que a pesquisa do Instituto Opus se torna tão relevante. Realizada com abrangência nacional, ela oferece um retrato amplo sobre como os brasileiros estão percebendo os estilos de comunicação política. E com um cuidado extra: para evitar viés regional, o estado de São Paulo foi excluído da amostra, já que os dois políticos analisados atuam diretamente no estado.
Foram conduzidas 100 entrevistas em profundidade com eleitores brasileiros, distribuídos pelas cinco regiões do país. As entrevistas ocorreram entre os dias 10 e 16 de junho de 2025. Os participantes assistiram a quatro vídeos de cada político, todos retirados dos perfis oficiais no Instagram, e avaliaram a percepção que cada estilo de comunicação transmitia.
Não se trata de achismo. Trata-se de dados. E dados que desmistificam a ideia de que o político precisa se render ao entretenimento raso das redes sociais para ser competitivo.
Dancinhas, memes e vídeos engraçados podem funcionar como recurso pontual, desde que estejam inseridos em uma estratégia mais ampla de posicionamento. Quando se tornam o centro da comunicação, constroem apenas barulho, não reputação.
A pesquisa do Opus é um alerta para quem está em campanha, para quem trabalha com comunicação pública e, principalmente, para quem ainda acredita que visibilidade a qualquer custo é sinônimo de sucesso. Não é.
A comunicação política do futuro não será medida apenas por likes. Ela será medida por confiança. E confiança se constrói com conteúdo, clareza e propósito.
Quem quer vencer precisa de voto e não de pirotecnia.
O conteúdo A pesquisa que vai fazer muito marqueteiro político rever sua estratégia nas redes sociais aparece primeiro em .