*Por Gervásio Lima –
A expressão atribuída ao filósofo Nicolau Maquiavel, que viveu entre os séculos XV e XVI: “Dê poder ao homem e descobrirá quem ele é”, talvez seja uma das frases mais usadas para demonstrar insatisfação com comportamentos que determinados elementos passam a ter após ascenderem a algo, principalmente na política.
Maquiavel no uso catedrático das palavras economizou adjetivos para se referir ao sujeito mau caráter, dissimulado e mentiroso, que se esconde atrás de um modo próprio, intrínseco, de nascença, enquanto lhe é conveniente.
Seria muito ousadia discordar do fundador do pensamento e da política moderna, aquele que como ninguém escreveu sobre o Estado e o governo como realmente são, e não como deveriam ser, mas como diz o ditado popular, ‘meia palavra basta’, ou seja, o poder é apenas uma das desculpas para as ações inconcebíveis e abomináveis, às vezes covardes, de lobos que sempre se travestiram como cordeiros.
A incompetência está para o arrogante e o vaidoso, assim como a verdadeira humildade está para a dignidade e a decência. Aliás, como os bobos da corte, que viviam em fazer gracejos para os ricos rirem, desde o Egito Antigo, muitos, até hoje, confundem situação financeira com ombridade.
Presumivelmente os palhaços da corte atuavam pela sobrevivência, no papel de um verdadeiro artista e não como chacoteiros. Naquela época, pela dificuldade do acesso ao livro, e consequentemente a leitura, o conhecimento era limitado, quiçá impossível, para uma grande fatia das populações, fato que pode explicar as submissões. No Brasil escravista por exemplo, logo ali no século XIX (o século atual é XXI), os malês, negros mulçumanos, eram muitas vezes mais instruídos que seus senhores, e, apesar da condição de escravos, não eram submissos, mas muito altivos, graças ao conhecimento adquirido através da leitura.
Recorrendo a mais um ditado popular, ‘o mal do sabido é pensar que todo mundo é besta’. É bom sempre lembrar que, assim como o poder, o status é passageiro. O hoje amanhã já é passado.
Se o boi tivesse noção do seu tamanho e de sua força, com certeza não seria guiado por um carroceiro.
*Jornalista e historiador