Formar Consciências para Transformar o Mundo: Reflexões sobre o Enem e o Envelhecimento no Brasil

*Por Edson Júnior Matos dos Anjos

Neste domingo, ao saber que o tema da redação do Enem 2025 tratava das perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira, senti novamente a certeza de que a nossa luta em sala de aula durante os últimos 32 anos, tiveram um sentido profundo. Como professor de História, sempre defendi que o papel da escola não é apenas transmitir conteúdos, mas formar cidadãos críticos, conscientes de seu papel histórico e capazes de compreender o mundo em que vivem.

O envelhecimento, quando analisado com sensibilidade e consciência política, revela muito mais do que um processo biológico. Ele expõe as desigualdades sociais, o papel — ou a omissão — do Estado e a forma como o sistema econômico estrutura o valor da vida humana. Em uma sociedade marcada pela concentração de renda, pelo culto à produtividade e pelo desrespeito ao trabalhador, envelhecer com dignidade é um privilégio de poucos. E compreender isso exige leitura histórica, consciência de classe e senso crítico — elementos que, na minha opinião, um ensino verdadeiramente libertador deve cultivar.

Ao longo da História, o idoso foi, em muitas culturas, símbolo de sabedoria e respeito. No entanto, na lógica capitalista moderna, passou a ser visto como sinônimo de “improdutividade” e “peso social”. Essa visão é reforçada por governos dito conservadores, tradicionalmente ligados aos interesses do grande capital e das elites dominantes, que adotam políticas profundamente prejudiciais aos mais pobres e consequentemente mais vulneráveis. As reformas da Previdência (2019) e Trabalhista (2017) no Brasil, por exemplo, ampliaram as dificuldades de aposentadoria e reduziram direitos conquistados com décadas de luta. Da mesma forma, as reformas econômicas implementadas recentemente na Argentina pelo governo Milei, sob o discurso da austeridade, têm afetado de forma cruel idosos, professores e trabalhadores de diversas áreas, colocando em risco o mínimo de proteção social que sustenta a dignidade humana.

Por trás desse discurso “conservador” está, na verdade, a subserviência a um sistema dominante que privilegia o lucro em detrimento da vida. Como nos alertou Karl Marx, “a história de todas as sociedades até hoje existentes é a história da luta de classes”. E é justamente essa luta, essa tensão entre os que detêm o poder econômico e os que vivem do trabalho, que explica boa parte das injustiças que atingem também o processo de envelhecimento.

Um estudante com consciência política e de classe compreende que o envelhecimento não é apenas uma questão pessoal, mas um reflexo direto das políticas econômicas e das escolhas do Estado. Já o estudante despolitizado, alienado e sem formação crítica, tende a tratar o tema de forma superficial, sem perceber as relações de poder que determinam quem envelhece com dignidade e quem envelhece na exclusão. Daí a importância de formar alunos pensantes, capazes de interpretar cenários políticos e econômicos e de entender de que maneira essas decisões interferem no seu presente e no seu futuro.

Como dizia Paulo Freire, “a educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.” É exatamente isso que testemunho, com alegria e orgulho, ao ver ex-alunos debatendo publicamente sobre o país, defendendo ideias, analisando criticamente o sistema e participando da vida social com autonomia intelectual. São frutos de uma educação que não se limita a preparar para provas, mas forma seres humanos conscientes e comprometidos com a transformação social. O contrário também existe e confesso ter sintomas de frustração somados à peculiar capacidade de compreensão.

O Enem, com todos os seus desafios, foi e continua sendo uma poderosa política pública que abriu as portas das universidades aos filhos e filhas da classe trabalhadora. É com persistente satisfação, que vejo tantos jovens, vindos das periferias e das escolas públicas, acessando o ensino superior e provando que a educação transforma realidades. Quando estudantes com esse perfil, escrevem com sensibilidade e clareza sobre o envelhecimento e as desigualdades do Brasil, vejo, com esperança renovada, que a História continua viva, pulsando nas consciências que nós professores ajudamos a formar.

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