Cosme e Damião: saiba onde comer caruru de graça em Salvador
Setembro está acabando e você ainda não comeu um caruru? Nesta terça-feira (27), é comemorado o dia festivo dos santos gêmeos Cosme e Damião e é uma oportunidade de concretizar o desejo de comer comida de dendê. O CORREIO fez um levantamento de onde será servido gratuitamente o caruru em Salvador. Apesar dos convites escassos, ainda existem pessoas que se dispõem a cozinhar para muitas pessoas e ofertar a comida em casa.
Lá na Feira de Sete Portas, a partir do meio-dia, quem quiser pode passar na Barraca Chapéu de Couro, de André Nery. Ele já está nos preparativos do caruru de 700 quiabos, que já é tradição há 20 anos. “É para todo mundo que chegar na feira. Isso aqui fica cheio de gente, tem as pessoas que já vêm porque sabem que eu ofereço”.
O caruru oferecido por ele, que é babalorixá, é completo: tem acarajé, vatapá, inhame, farofa, milho branco, pipoca, batata doce, feijão fradinho, ovos e rapadura. A devoção pelos santos gêmeos começou por causa do seu nascimento. André veio ao mundo no dia 28, um dia depois que a mãe comeu o tradicional caruru.
“Ela comeu no dia 26, aí teve uma dor de barriga dia 27 e eu nasci no dia seguinte. Aí veio a devoção. Desde pequeno minha mãe oferecia por mim e depois eu mesmo comecei a fazer”, conta. É só chegar a partir de 12h que a comida já vai estar disponível.
Também ao meio-dia, no bairro da Cidade Nova, o aposentado Brasilto Arcanjo Rodrigues, 67, vai promover mais um ano da tradição que já dura quase 40 anos. Agora, em tamanho reduzido, por causa de problemas familiares.
Antes, o caruru era feito com 2 mil quiabos, mas esse ano a expectativa é de que sejam cortados entre 500 e 700. “Esse ano que vou fazer com 500 quiabos. Minha mulher está doente, eu perdi minha mãe e agora minha filha está assumindo para ajudar”, contou. Mesmo com a dificuldade, ele garante que vai manter a tradição por mais tempo. “Mesmo menor, a gente vai continuar fazendo”, afirma.
Fila do SUS
Mas em Nazaré, a tradição da Família Maia continua do mesmo tamanho. Cinco irmãs começam nesta segunda-feira (26) a cortar os 2 mil quiabos que vão compor o prato. E a fila é grande para quem deseja comer o caruru de graça.
“Qualquer pessoa que entre na fila come o caruru. É uma fila quase igual ao do SUS, a gente não consegue saber quantas pessoas comem”, conta Cássia Maria de Santana Maia, 54. Mas é bom saber que a fila é organizada e não tem tumulto para não causar transtorno para a família, que abre as portas para receber as pessoas.
Ela, junto as irmãs, mantém a tradição que começou com a avó, há mais de 50 anos. “Começou antes de eu nascer. A gente faz é manter a tradição que já existia na família. Vai passando dentro da família. Minhas filhas, as sobrinhas já estão começando e participam também. Enquanto tiver comida, a gente vai dando”, diz Cássia.
O dinheiro é arrecadado com amigos que sabem e querem ajudar a manter a tradição. “Cada um dá o quanto pode, a gente se junta e faz”.
Tradição e crise
Chegando no Engenho Velho de Brotas, o caruru da professora Jacira Cedraz, 76, também já é conhecido. Há mais de 30 anos, ela faz a alegria de quem passa pelo final de linha do bairro na noite do dia 27. Lá, tudo é feito como manda a tradição. “É um caruru de promessa mesmo, eu faço o caruru dos sete meninos. Primeiro é servido para os santos, depois para os meninos, que comem juntos, com as mãos e depois é servido para todos”, conta.
Jacira conta que hoje em dia às vezes é até difícil achar as crianças para comer a oferta. “Agora a gente não está nem achando as crianças porque as mães viraram evangélicas e não querem deixar os meninos virem comer”, afirma.
Essa também é a justificativa para alguns vendedores, que reclamam das vendas das iguarias. “As igrejas quebraram muito as pessoas. Agora, as pessoas são evangélicas e não fazem mais o caruru”, diz o vendedor Raimundo Ferreira, que há 20 anos trabalha na Feira das Sete Portas e afirma que as vendas estão diminuindo cada vez mais.
Mas também há quem fale que a crise econômica está contribuindo para a queda na oferta. A comerciante Sandra Sena não pode deixar a tradição de lado, mas, agora, apenas distribui as quentinhas com o caruru entre crianças na rua.
“Antes enchia a casa, mas agora isso acabou. Era um caruru grande, mas a crise fez diminuir a quantidade, mas eu não deixo de fazer algo por eles (os santos). Se não consigo fazer o caruru, pelo menos distribuo balas”, conta.
Quem não conseguir comer nesta terça-feira (27), pode matar a vontade na quinta-feira (29), com o tradicional caruru da Feira de São Miguel, localizada na Avenida José Joaquim Seabra na Baixa dos Sapateiros.
Endereços do caruru:
De André: Feira das Sete Portas, boxe 82, Barraca Chapéu de Couro, 12h
De Brasilto: Rua 2 de Fevereiro, s/n, Cidade Nova, 12h
Da Família Maia: Rua Fonte da Vovó, 60, Nazaré, 19h
De Jacira: Final de linha do Engenho Velho de Brotas, após a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), 19h
Quem é quem no prato do caruru
O prato de Cosme e Damião reúne oferendas que são destinadas a diversos orixás, segundo o babalorixá André Nery. Veja abaixo o que significa cada item:
Quiabo: Xangô
Acarajé: Iansã
Inhame: Ogum
Farofa: Ogum e Exu
Milho Branco: Oxalá
Pipoca: Omolu
Batata doce: Ossain e Oxumarê
Ovos: Oxum
Feijão fradinho: Oxum
Feijão preto: Omolu