Os homens que desejam se transformar em mulher são a maioria, um equivalente a 65% dos transexuais que se tratam no IEDE. Em nível nacional, dados do Ministério da Saúde indicam que o número de mudanças de sexo do masculino para o feminino cresceu 48%, de 23, em 2015, para 34 em 2016.Mas, segundo o instituto, o perfil dos interessados no processo está se alterando. “Observei um crescimento importante no último ano em relação às mulheres que desejam a mudança de gênero, já que os homens são maioria nesse processo, cerca de 65%. O conhecimento do que é ser transexual aumentou, antes, muitas mulheres não entendiam, achavam que eram lésbicas, agora, a informação chega até elas”, explica a médica Karen de Marca, coordenadora do ambulatório de disforia do IEDE. Pacientes esperam, agora, que além do procedimento clínico, a sociedade também aceite fatores como seus nomes sociais. “A Semana da Visibilidade Trans teve muita força, com muitos eventos. Com toda essa movimentação, temos esperança de que a Lei João Nery [que tramita na Câmara dos Deputados desde 2013 e busca garantir à população trans o reconhecimento a sua identidade de gênero] seja aprovada. Também festejo o fato de ter conseguido usar meu nome social na carteira da OAB”, conta Maria Eduarda, que atua como advogada da ONG Grupo Pela Vidda. Maria Eduarda nasceu com sexo masculino, foi batizada como José Jorge Aguiar da Silva, mas, aos 13 anos, viu que tinha algo diferente. Aos 30, começou a se transformar por conta própria. Tomou medicamentos que não eram indicados para seu organismo e não estava satisfeita com o corpo, até que começou, aos 36 anos, o processo pelo SUS, que lhe garante atendimento com psiquiatra a cada três meses, psicólogos todo mês, além de consultas com endocronologista e assistentes sociais. “Minha transexualização foi tardia. Infelizmente, ainda existe preconceito. As trans não conseguem emprego formal, acabam na rua ou se prostituindo. Comigo foi diferente. Quis programar a minha vida e comecei meu processo já pagando minhas contas e bem estabilizada”, revela a trans.

