Com manchas de frio, cabelo de verdade e até marquinha de vacina, os bebês reborn levam cerca de 15 dias para serem produzidos. O valor de apenas um boneco hiper-realista — tema de grande repercussão na mídia nas últimas semanas — pode ultrapassar a marca de R$ 2 mil.
O termo reborn significa "renascer" e está associado a transformação de um boneco comum em um boneco hiper-realista, como se o brinquedo tivesse "renascido".
Célia Rosa, moradora de Luís Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia, trabalha no ramo desde 2020 e neste ano abriu uma loja que funciona como "maternidade" de bebês reborns. Nas prateleiras do estabelecimento, os bonecos que imitam recém-nascidos ficam dentro de cestinhos, como se estivessem dormindo. Os clientes, que normalmente são crianças, podem pesar o bebê escolhido e medi-lo como em um consultório de pediatria.
Meu objetivo é trabalhar a parte lúdica da criança, então por isso a balança, o medidor e o enxoval que acompanha os bonecos.
Assim como um bebê de verdade, os reborn confeccionados e vendidos por Célia fazem teste do pezinho, têm cartão de vacinação e certidão de nascimento. Ao g1, ela mostrou que as criações usam roupinha, fralda, chupeta e têm até mamadeira com leite falso.
Outro detalhe dos bebês reborn é que não são leves como os bonecos vendidos em lojas de brinquedo. Eles realmente simulam o peso de um recém-nascido de verdade.
A artesã Renata Magalhães, de Feira de Santana, segunda maior cidade da Bahia, tem um catálogo com 100 tipos de bebês. Desde 2018, ela trabalha principalmente com a produção por encomenda e aí os clientes podem escolher a tonalidade da pele, o tipo de cabelo e até se o boneco terá alguma marca de nascença.
É uma obra de arte. Nenhum bebê reborn é igual ao outro, porque é um trabalho manual, minuncioso, muito diferente das bonecas industrializadas que são vendidas nas lojas de brinquedo.
Para criar um boneco único no mercado, é preciso tempo e paciência, pois cada detalhe é feito artesanalmente. O cabelo, por exemplo, é implantado fio a fio.
Produção artesanal
Célia e Renata levam entre uma e duas semanas para concluir um único boneco. A demora do processo está relacionada as diversas etapas de produção.
Primeiro, elas recebem os kits dos bonecos, que chegam desmontados. Os braços, pernas e a cabeça dos bebês são feitos por escultoras e encomendados pelas artesãs.
Os bonecos chegam crus, sem nenhuma pintura, cabelo ou expressão. Por isso, a primeira etapa é encontrar a tonalidade do bebê e começar a pintura, com direito a marquinhas de frio e até veias aparentes.
Em seguida, a pintura precisa ser selada em um forno para não descascar.
Com a pintura seca, são feitos os detalhes do boneco, como a implantação do cabelo, que é feita fio a fio. As madeixas podem ser sintéticas, humanas ou feita a partir do pelo de algum animal.
Por último, o bebê é vestido com a roupinha solicitada pelo cliente e os detalhes do enxoval são produzidos.
Empreendedorismo
Antes de trabalhar com a confecção de bonecos reborn, Renata Magalhães, de 46 anos, era gerente administrativa de um escritório de advocacia há quase duas décadas e nunca havia desenvolvido nenhum trabalho artístico. A ideia de entrar no ramo surgiu depois que a filha, na época com quatro anos, pediu uma boneca reborn de aniversário.
Fizemos uma vaquinha e compramos a boneca de uma artesã paulista. Na época, custou R$ 1.700. No ano seguinte, ela pediu mais uma boneca e como não tinha condição financeira, procurei um curso pra aprender a fazer, contou.
A história de Célia Rosa é parecida. Assim como Renata, ela nunca tinha trabalhado com expressões artísticas antes de virar a "Gepeto" das bonecas.
O trabalho na área começou em 2020, durante a pandemia de Covid-19. Célia e o marido abriram um empreendimento que não deu certo e ela precisava encontrar uma nova fonte de renda para a família. A inspiração veio enquanto rezava no sofá de casa e as filhas mostraram um vídeo gringo sobre uma bebê reborn.
Foi a resposta da minha oração, concluiu.
Mesmo com o trabalho puxado, as empreendedoras conseguem administrar a rotina do trabalho com a rotina da família. Além de produzir os bonecos, elas participam de exposições e seguem fazendo cursos para aperfeiçoar ainda mais as técnicas.
Segundo as duas empreendedoras, apesar da procura pelo assunto ter crescido nas redes sociais, o número de vendas ainda não foi impactado.
Fonte: G1 / Foto: Reprodução