Os moradores do bairro de São Marcos, em Salvador, realizaram um protesto no fim da tarde desta segunda-feira (29), pela morte de um adolescente de 16 anos durante uma ação policial na região. Com cartazes e queimando entulhos, os moradores do bairro pediram Justiça por Caíque dos Santos Reis, morto na tarde de domingo (28).
A manifestação começou pela tarde e seguia até às 19h30. Devido ao protesto, a circulação dos ônibus foi paralisada no bairro. Segundo a Secretaria de Mobilidade (Semob), o transporte coletivo está passando pela via regional, mas não entra no bairro, por precaução. Durante o dia, alguns lojistas da região chegaram a fechar as portas.
O trânsito na região não foi interditado, mas segue com alguma lentidão devido à movimentação dos manifestantes. O policiamento na região foi reforçado nesta segunda.
O corpo de Caíque Reis foi sepultado ainda nesta segunda, em um cemitério da Baixa de Quintas. Ele foi morto no domingo (28), durante uma ação da polícia no bairro. O jovem era estudante, barbeiro e começaria emprego como atendente de confeiteiro nesta segunda-feira (29).Conforme relato dos moradores, os policiais chegaram ao bairro em busca de suspeitos e atiraram contra o rapaz.
Em entrevista, a mãe do adolescente, Joselita dos Santos Cruz, afirmou que o filho obedeceu às ordens da polícia de colocar as mãos para cima, mas ainda assim teria sido baleado pelos policiais.
A mãe ressalta que o jovem não tinha envolvimento com a criminalidade ou passagem pela polícia. Ela estava em casa quando foi chamada pelos vizinhos e encontrou o filho morto. "Colocaram ele como traficante que foi encontrado com armas e drogas. Meu filho não traficava, não fazia nada disso", afirma.
O menino estava andando e eles mandaram colocar as mãos para cima. Quando ele colocou, deram um tiro na perna da criança e depois levaram lá para dentro, deram um bocado de tiros e disseram que foi troca de tiros, disse, emocionada.
Já a Polícia Militar disse que Caíque foi morto durante uma troca de tiros com agentes da corporação. Outro homem, identificado como Matheus Daniel Chagas da Silva, de 21 anos, também foi baleado e não resistiu aos ferimentos.
Esse é o segundo protesto realizado pelos moradores do bairro, que também se manifestaram no dia em que Caíque foi morto. Representantes da União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro) e do Conselho Nacional dos Direitos Humanos prestaram apoio à família e tomarão medidas sobre o caso.
Testemunhas discordam da versão da polícia
Uma testemunha, que por medo preferiu não ter a identidade revelada, deu mais detalhes do que teria acontecido no bairro.
Eu vi, não estou mentindo. A polícia mandou ele correr. E ela, a mulher [PFEM], deu um tiro na perna dele... O levou para um beco e deflagrou mais disparos, relatou.
Após a saída dos militares, moradores do bairro fizeram uma manifestação, em um trecho da Avenida Gal Costa, nas proximidades de onde aconteceu a ação policial. Eles queimaram objetos na rua e cobraram justiça. Duas pessoas disseram que foram atingidas por balas de borracha.
Só ouvi os sons dos tiros. Entrei em pânico, comecei a orar aqui, pedindo: 'Deus, cadê você? Jesus? A comunidade é sua, disse a moradora Noelia Carvalho.
Em um vídeo que circula nas redes sociais, é possível ver que os baleados deixaram o bairro desacordados, carregados pelos policiais, enrolados em lençóis, e sob protestos de "assassinos".
Eu só queria meu filho aqui, agora. Eles tiraram a vida de uma criança. Todo mundo gritando, tem filmagem, tem tudo, lamentou a mãe de Caíque.
O que dizem as polícias
Segundo a Polícia Civil, a ocorrência do caso aponta que policiais militares faziam rondas na região, quando se depararam com dois suspeitos armados, que começaram a atirar contra eles.
Ainda conforme o relato, houve o revide e, após o cessar dos tiros, os dois foram levados para o Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), no Cabula, mas não resistiram.
Ainda segundo a ocorrência, foram apreendidas armas e drogas com a dupla. O material foi apresentado no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), onde o caso foi registrado.
A Polícia Militar da Bahia (PMBA) informa que, na manhã deste domingo (28), equipes do Batalhão Gêmeos realizavam patrulhamento na Avenida Gal Costa, bairro de São Marcos, quando receberam informação sobre a presença de indivíduos armados na localidade conhecida como São Domingos.Diante da denúncia, as guarnições se deslocaram até o ponto indicado. Durante a incursão, um grupo de homens efetuou disparos contra os policiais, que reagiram. Encerrado o confronto, dois suspeitos foram encontrados feridos e socorridos imediatamente para uma unidade de saúde, onde não resistiram.Na ação foram apreendidos uma pistola calibre 9mm, um revólver e porções de entorpecentes (maconha, cocaína e crack). O material foi encaminhado para a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que ficou responsável pelo registro da ocorrência.As armas empregadas pelos policiais foram apresentadas à perícia técnica, em cumprimento aos protocolos legais. O Departamento de Homicídios instaurou investigação para apurar as circunstâncias do fato.O Comando da PMBA, através da Corregedoria, acompanha o caso e reafirma que todos os desdobramentos serão analisados com a isenção e a transparência necessárias, em cooperação com os órgãos competentes.
Fonte: G1 / Foto: Reprodução