
No embalo da vitória do governador Rui Costa e da expressiva votação de Fernando Haddad em Jacobina, o ex deputado federal e economista Amauri Teixeira concedeu uma entrevista exclusiva para o jornal Tribuna Regional e o site TRagora. Candidato a prefeito por duas vezes em Jacobina, Amauri demonstra a evolução eleitoral do PT no município e o amadurecimento de uma frente ampla formada por partidos do campo popular e democrático. Amauri faz uma análise da eleição presidencial e o impacto na política regional. Segundo o ex deputado, os próximos anos prometem ser difíceis para os nordestinos, mas, acredita fortemente na organização da sociedade como antídoto às propostas antipovo do presidente eleito Jair Bolsonaro. Auditor Fiscal da Receita Federal, Amauri Teixeira também é um profundo estudioso de Direito Constitucional, Tributário e Previdenciário, sendo autor de livros sobre o tema e professor da Escola de Contabilidade da UFBA. A partir de um olhar especializado, Amauri prevê um ataque ainda mais profundo aos direitos dos trabalhadores pelo governo eleito e uma onda de perseguições sem precedentes desde a redemocratização do país. Escolhido por três oportunidades um dos 100 deputados mais influentes do Brasil, ainda hoje Amauri Teixeira conta com milhares de admiradores de todo o país no Facebook, sendo um dos políticos mais populares da Bahia na internet, levando o nome de Jacobina para o mundo inteiro.
Tribuna Regional – Como o senhor avalia o resultado das eleições 2018?
Amauri Teixeira – O resultado pode ser visto por diversos prismas. Podemos enxergar como positivo já que na Bahia reelegemos o governador Rui Costa, mais dois senadores e a maioria esmagadora de deputados federais e estaduais, derrotando pela quarta vez consecutiva as forças do atraso. Se olharmos para o Nordeste, veremos que o resultado também é positivo. O campo popular e democrático venceu em todos os estados da região e elegeu todos os governadores. Em Jacobina, tivemos um resultado ainda mais positivo. Todos os candidatos apoiados por nós ou campo popular democrático tiveram a maior votação ou foram reeleitos, Solla dos federais eleitos foi o mais votado em Jacobina , Galo dos estaduais eleitos também, Tiago Dias, que também é do campo popular democrático teve uma votação extraordinária. candidatos do atual prefeito e do casal Leopoldo e Valdice, além do deputado estadual de Rui Macedo tiveram uma votação pífia. Também podemos olhar como positiva a votação do Professor Haddad na maioria das cidades do país e, especialmente, nas cidades onde a maioria da população negra, a exemplo de Salvador, onde vencemos em todas as seções eleitorais. Também elegemos a maior bancada de deputados federais do Brasil, além de ampliarmos o número de parlamentares mulheres. Mas, no geral, tivemos uma eleição negativa. A população foi induzida ao erro e elegeu um inimigo ferozmente contra o nordestino, racista, misógino, homofóbico, subalterno aos interesses estrangeiros, bem como, subserviente aos latifundiários e rentistas da Bolsa de Valores. Conheço de perto o capitão da reserva. É contra os povos indígenas, quilombolas, pequenos agricultores e dos trabalhadores em geral, porque, nunca trabalhou de verdade na vida. Sempre viveu as custas do dinheiro do povo. Ele e sua família. Um homem inapto a exercer um cargo público e um parlamentar medíocre e mesquinho, abaixo de qualquer crítica. É um desastre completo. Um homem sem qualquer escrúpulo, antiBrasil, antipovo. Ele não é – definitvamente – um messias. É um cavaleiro do apocalipse contra o meio ambiente, a educação, a saúde, a ciência, a tecnologia e os interesses nacionais.
TR – O que espera do Novo Governo?
AT – De Rui Costa tenho certeza que Jacobina continuará tendo uma atenção especial. Os nossos governos não olham as cores dos partidos. Temos um pacto com o povo. O que é muito diferente em relação ao presidente eleito por uma maioria induzida ao erro. O presidente do Sul Maravilha ficou escondido durante toda a campanha. Não explicou em nenhum momento as suas propostas, se é que existem. E, se existem, certamente, o próprio presidente eleito não conhece, pois, quem deve mandar de verdade é o general Mourão ou o Posto Ypiranga chamado Paulo Guedes. Juntos, Mourão e Guedes vão atacar com a sua tropa de soldados e novos aliados do DEM os direitos dos trabalhadores, bem como, um desmonte dos serviços públicos essenciais e a entrega do patrimônio público e das riquezas naturais do Brasil para os estrangeiros. Iremos testemunhar uma precarização sem precedentes das condições de trabalho. Infelizmente, viveremos um período de trevas e, se não organizarmos o povo, passaremos por retrocessos irreversíveis.
TR- Em Jacobina, a vitória de Haddad foi esmagadora. Ao todo, 76% dos votos válidos. O que significa ou sinaliza para as eleições municipais de 2020?
AT – O povo de Jacobina é muito inteligente. A vitória esmagadora do Professor Fernando Haddad mostra o quanto o povo jacobinense compreendeu a necessidade de continuarmos com as nossas políticas de inclusão, distribuição de renda, ampliação de acesso ao crédito e ao serviço público, bem como, a educação e a saúde feitos por Lula e Dilma. O nosso povo entendeu como tudo que fizemos só favoreceu o nordeste, a Bahia, a região e, especial, a cidade de Jacobina. Apesar de nossa cidade não ter sido governada ainda por nenhum prefeito eleito por Lula, Wagner ou Rui, o povo compreende que o Água e o Luz para Todos só chegou em nossa terra por conta da gente. Então, o povo de Jacobina entendeu isso e, certamente, percebeu que investimentos como a UPA, o SAMU, creches, estradas, entre tantos outros, só vieram para a nossa cidade por conta de nosso grupo. Logo, não tenha dúvida do quanto é ilustrativo o resultado desta votação de Fernando Haddad para as próximas eleições municipais. É um claro prenúncio de mudança.
TR – Na sua primeira eleição municipal, o senhor obteve 8 mil votos. Na segunda, 12 mil votos. O senhor está realmente decidido a sair candidato a prefeito em 2020?
AT – Na verdade, na primeira eleição tive 8.182 votos. Na segunda, 11.652 votos. Para deputado, em 2010, obtive 9.521 votos. Já em 2014, obtivemos mais uma vez a maior votação para deputado federal com 13.531 votos. Portanto, os números falam por si só. Eles mostram o crescimento sólido de um grupo político inteiro. Contudo, seria leviano e arrogante com tanta antecedência anunciar uma candidatura para 2020. Eu não sou leviano, nem arrogante. Não é uma decisão meramente pessoal. Nunca fui e não serei candidato de mim mesmo. Uma candidatura é uma construção coletiva. É preciso ouvir as pessoas, o meu partido e os partidos do campo popular e democrático. Após muita conversa, decidiremos se serei candidato ou quem será candidato. Meu nome continua a disposição do povo de Jacobina, mas, faremos essa discussão no momento apropriado.
TR – O vereador Tiago Dias obteve uma votação surpreendente em Jacobina. Ele já disse que é candidato a prefeito. Não seria inviável duas candidaturas de esquerda?
AT – Desculpe, mas, não foi uma votação surpreendente. Quem acompanha o trabalho de Tiago não tinha dúvidas sobre o seu potencial. E pra mim não foi nenhuma surpresa. Ajudei a eleger Tiago Dias vereador e sempre priorizamos o seu mandato com o governador Rui Costa. Mas, anunciar uma candidatura com antecedência pode inviabilizar a unidade em torno de qualquer candidatura. Após uma votação expressiva é natural e legítimo as pessoas em volta de Tiago Dias ficarem empolgadas. Contudo, uma eleição é ganha com prudência, humildade e conversa. Muita conversa em busca da unidade. Por isso, não coloco o meu nome como pré candidato. A caminhada é mais importante do que a estrada. É na caminhada que definimos um projeto. Não é um nome. Nós precisamos de um projeto. Ao longo dos tempos, nomes alternam o poder em Jacobina, mas, o povo cansou de nomes, porque, esses nomes estão sendo desastrosos para a nossa cidade. Na área da saúde, por exemplo, esses nomes são tudo farinha do mesmo saco, porque, os nomes são diferentes, mas, a prática é igual. Eles não evoluem e a saúde de Jacobina está sendo enterrada. Não há nada na área da agricultura. Nem planejamento estratégico para dinamizar a nossa economia. Tudo que acontece em Jacobina é fruto do esforço do empresário local, sem qualquer ajuda ou orientação da prefeitura. Ao contrário, a prefeitura muitas vezes atrapalha. Portanto, não são nomes, mas, um projeto coletivo, democrático e participativo, onde a saúde e a educação, por exemplo, estejam no centro de todas as decisões, tendo a agricultura familiar e a área de serviços como fios condutores de nosso desenvolvimento econômico. Um governo transparente e controlado pelo povo. Quem orientar este projeto será o comandante desta caminhada contra os nomes do atraso.
TR – O senhor trabalha em Brasília, o que dificulta a sua presença no município. Caso seja candidato, como resolver essa questão?
AT – Primeiro, eu estou em Brasília cedido até fevereiro de 2019. Logo, o natural é retornar para o meu lugar de origem em Salvador. Como todos sabem, sou servidor público pela Receita Federal. Trabalho de segunda a sexta-feira. Portanto, continuarei trabalhando. É com este trabalho que pago as minhas contas, sustento a minha família e sobrevivo. E continuarei presente em Jacobina, andando na feira e no meio do povo. Tem gente que é prefeito, vereador e tem cargo público em Jacobina e, mesmo assim, o povo não vê. Quem é da feira sabe o quanto presente eu sou. O prefeito desde que foi eleito não aparece na feira. A ex prefeita também sempre teve costume de ir para a feira e também não tenho visto. Estou frequentemente nos distritos com atividades e reuniões ao lado dos deputados Marcelino Galo e Jorge Solla, mas, nem sempre sou convidado para uma entrevista no rádio ou no jornal. Se assim fosse, certamente, concederia o máximo de entrevistas possíveis. Porém, estou muito bem no meio do povo, que é o meu lugar. E quando não estou no meio do povo, estou nos órgãos públicos cobrando e defendendo os interesses de nossa gente.
TR – Que mensagem você deixa para o povo de Jacobina e os leitores da Tribuna Regional e do site TRagora?
AT – Após 3 anos de recessão econômica e a eleição de um governo antipovo, deixo uma mensagem de convocação a todos: continuem resistindo com muita organização. Os próximos anos serão duros, difíceis. Anos de um governo antinordestino, antibaiano, antisertanejo. Anos que vão tentar cortar ainda mais direitos conquistados dos trabalhadores, de destruição das políticas públicas de inclusão, de desmontar tudo que fizemos para melhorar a vida do povo sertanejo, de melhorar a convivência com a seca. Não sou pessimista, mas, vejo claramente como este novo governo vai reduzir ainda mais os recursos para a educação e a saúde, especialmente no Nordeste. Quem faz parte de movimentos sociais, qualquer um, certamente será reprimido, perseguido. E o uso da arbitrariedade e da injustiça com a aparência da legalidade vão tentar colocar o povo contra o povo. Mas, nós, trabalhadores, precisamos estar juntos. Participar mais ativamente da vida do sindicato ou da sua associação de bairro. Precisamos fortalecer todas as organizações sociais, seja cooperativa, associação, sindicato, ong ou partido. É uma organização para reduzir danos dos próximos anos. Temos que resistir contra este governo antipovo. Eles vão tentar destruir tudo que fizemos para melhorar a vida do nordestino. Vão tentar destruir o Água e o Luz para Todos, o Bolsa Família, bem como, o Seguro Safra. Vão tentar desmontar tudo que fizemos para ampliar o crédito do pequeno agricultor. Vão tentar desmontar tudo que fizemos para incentivar a agricultura familiar e uma alimentação saudável. Vão tentar desfazer tudo que fizemos com o Minha Casa, Minha Vida. Tudo que fizemos para incluir e aumentar a renda do povo com Lula e Dilma. Eles vão tentar, mas, nós não vamos deixar. Não vamos baixar a cabeça. Vamos resistir e lutar para garantir o direito dos trabalhadores e de todas as pessoas. Mulheres, LGBTT’s, não iremos aceitar nenhum direito a menos. Os servidores públicos, como eu, iremos lutar. Os mineiros de Jacobina e região também precisam ficar alertas. A reforma trabalhista deve ser ainda mais profunda no próximo período. Muito além da terceirização. Muito além da precarização das relações de trabalho. É preciso mais organização para combatermos este governo antipovo. Essa é a minha mensagem para o ano que termina e a luta que continua nos próximos anos. Serão anos difíceis mas, passaremos por eles com dignidade e cabeça erguida.
Fonte: TRagora/Tribuna Regional