A sensação de corrupção no Brasil continuou a crescer em 2018, de acordo com a mais recente edição do IPC (Índice de Percepção da Corrupção), elaborado pela Transparência Internacional. O país caiu nove posições e agora ocupa a 105ª posição em um conjunto de 180 países analisados.
O IPC faz essa classificação com base em quão corrupto o setor público é percebido por especialistas e executivos de empresas, de acordo com 13 pesquisas e relatórios independentes. Quanto menor a nota (de 0 a 100), maior é a percepção da corrupção.
A média do Brasil caiu novamente e chegou a 35 pontos em 2018, a mais baixa nos últimos sete anos. Ele empata na lista com Argélia, Armênia, Costa do Marfim, Egito, El Salvador, Peru, Timor Leste e Zâmbia.
A nota mais alta entre os países analisados coube à Dinamarca (88 pontos), que é seguida por Nova Zelândia (87), Finlândia, Singapura, Suécia, Suíça (todos com 85) e Noruega (84). As últimas posições da lista são ocupadas por Coreia do Norte, Iêmen (ambos com 14), Sudão do Sul, Síria (ambos com 13) e Somália (10).
A piora brasileira no índice coincide com a Operação Lava Jato, iniciada em março de 2014 — naquele ano, o Brasil era o 69º, e desde então só perdeu posições na tabela global.
Para Bruno Brandão, diretor-executivo da Transparência Internacional no Brasil, é comum que ações de enfrentamento como a Lava Jato aumentem a percepção de corrupção em um primeiro momento — mas que a tendência se inverta, caso seja bem-sucedida. É a ausência dessa inflexão que preocupa.
“Isso aponta para o risco de a Lava Jato ter ficado um ato isolado no país. O que nós vimos como principal causa dessa sequência de pioras é a falta de reformas estruturais, legais e institucionais que ataquem de fato a raiz do problema.”
Brandão ressalta que a Lava Jato foi fundamental para o Brasil e rompeu com o histórico de impunidade em relação à corrupção, mas que o país não pode depender somente dessas operações.
“Ainda temos um problema estrutural. A Lava Jato de fato é um ponto fora da curva. A realidade do país ainda é um problema grave, de dificuldades para o enfrentamento e a prevenção da corrupção. Temos de avançar numa agenda ambiciosa de reformas para darmos um salto real de patamar, que não dependa de condições isoladas”, afirma.
A nota média global é 43,1, o que também é visto com preocupação pela Transparência Internacional. Índices abaixo de 50 — que contemplam dois terços dos países analisados — apontam que o combate à corrupção está falhando nos países.
Em sua análise global, o IPC aponta que países bem-sucedidos no combate à corrupção têm elementos fundamentais em comum, como sistemas democráticos estáveis, liberdade de imprensa, atuação da sociedade civil e instituições de supervisão e controle independentes que ajudam a fiscalizar a integridade no governo e nos negócios.
Folha